Tóquio – Uma criança que gosta de bichinhos de pelúcia não costuma chamar atenção, mas um adulto que tem esse hobby, muitas pelúcias em casa e os trata até como se fossem seres vivos, pode acabar passando por constrangimentos.
Não é um hobby muito compreendido na sociedade, mas em Tóquio, uma japonesa de 39 anos que gosta desde criança, decidiu agir para mudar essa realidade.
Hana Kaneko abriu o primeiro e único jardim de infância voltado para os bichinhos de pelúcia. Segundo uma reportagem do Jornal Mainichi, ela ganhou o título de “pesquisadora de pelúcias” e abraçou a missão de mudar os preconceitos sociais que acabam reprimindo os adultos que são apaixonados por esses brinquedos.
Ela deu uma entrevista para o jornal e explicou como tudo começou, de onde surgiu a ideia do jardim de infância e como funciona a “creche” que reúne bichinhos de pelúcias de pessoas diferentes para um dia inteiro de atividades. Ela também contou sobre suas pesquisas de mestrado na área e seus planos para provar que os brinquedos podem ser grandes apoios emocionais para adultos.
Veja as perguntas e respostas:
Tem muita gente que gosta e esconde. Como foi no seu caso?
Eu cresci em uma família muito voltada para a educação. Tinha classes diversas como música, cerimônia do chá, arranjos florais e cursos preparatórios. Os ursinhos de pelúcia eram como amigos ou irmãos para mim. Eu os levava para as excursões da escola de tanto que eu gostava deles.
Fui crescendo e não deixei de gostar, mas quando estava trabalhando em uma agência de publicidade e ele viu um dos meus bichinhos, ele comentou que eu gostava mesmo disso e que eu parecia “perdida em um personagem”. Eu fui tratada como uma esquisita e depois disso comecei a esconder que gostava, aí sim eu entrei em um personagem.
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Por que você decidiu falar publicamente sobre isso?
Antes de completar 35 anos eu estava me sentindo exausta com o trabalho. Um dia, durante o trabalho, passei por uma loja e vi uma pelúcia do Olaf, personagem do Snoopy. Eu achei tão bonitinho que acabei comprando e neste mesmo dia decidi criar uma conta no Instagram para falar de bichinhos de pelúcia. Recebi comentários até de estrangeiros e entendi que eu podia falar sobre aquilo que gostava.
Isto me fez conhecer outras pessoas que também gostam e criamos um grupo. Ao conversar com eles, descobri que vivem escondendo seus sentimentos sobre isso porque sentem vergonha, não podem falar publicamente sobre. E então eu tive uma ideia para tentar mudar isso.
Como funciona esse jardim de infância?
Os bichinhos de pelúcia normalmente estão apenas no ambiente de seus donos e nunca saíram de suas casas. A ideia do jardim de infância foi proporcionar uma experiência diferente e entrar na brincadeira. A gente aluga uma sala e recebemos os ursinhos das pessoas e quem cuida deles é um funcionário que tem certificação para cuidar de crianças e já trabalhou em creche.
Durante o dia fazemos máscaras para dormir e brinquedos para os ursinhos. No fim da tarde, quando os donos aparecem para buscar, entregamos uma foto do dia e uma cartinha com um relato do que fizemos juntos.
Parece que você está estudando a relação entre bichinhos de pelúcia e pessoas na pós-graduação, como está indo essa pesquisa?
Estou pesquisando a diversidade de interações entre os bichinhos e os humanos. O jardim de infância é uma dessas áreas. É notório o quanto a comunicação com robôs recebe atenção enquanto que as pelúcias ficam de lado, mas esses seres inanimados oferecem várias formas de interação na mente das pessoas. Eu entrei na pós-graduação para provar que eles ajudam a acalmar a mente e contribuem com o controle das emoções. Ao dar nomes e formar parcerias, eles se tornam companheiros valiosos.
No futuro, espero apoiar pacientes com câncer com ursinhos de pelúcia. Eles podem se tornar parceiros, amigos, ajudar a superar a solidão e a dor do tratamento.