Tóquio – A crise do coronavírus, restrições e seus impactos na economia trouxeram dificuldades financeiras para muitos estudantes que dependiam da renda de trabalhos temporários para adquirir itens básicos do dia a dia.
A emissora NHK divulgou uma pesquisa inédita, que foi realizada pela internet, durante 2 semanas, com foco em meninas a partir do ensino médio (koukou). A pesquisa questionou sobre dificuldades relacionadas ao período menstrual e obteve respostas de 671 garotas.
Os resultados mostram que, no último ano, desde que iniciou a pandemia, 20% das estudantes estão com dificuldades financeiras para comprar absorventes, pois precisam priorizar outros itens, como alimentos.
Cerca de 6% das entrevistadas disseram que já passaram por uma situação de não poder comprar. Para 37% das participantes, algumas medidas tiveram que ser tomadas durante o período menstrual, como diminuir a troca do absorvente e economizar no uso do produto.
27% das entrevistadas também disseram que já usaram outros itens no lugar do produto, como papel higiênico.
A questão dos absorventes leva a outros problemas, como constrangimentos e o interrompimento da rotina. Metade das participantes da pesquisa relataram que, por causa disto, já tiveram que faltar a aula, sair mais cedo ou acabaram se atrasando para os compromissos.
Para 31% das estudantes, foi preciso faltar o trabalho em algum momento e 6% disseram ter precisado interromper as atividades de busca por emprego devido aos problemas no período menstrual.
“Se o preço dos absorventes baixasse um pouco, ajudaria muito na gestão dos gastos pessoais”, comentou uma jovem.
A pesquisa foi realizada pelo movimento #minnanoseiri, que visa gerar consciência e reduzir os impostos sobre o consumo deste item, que é essencial para as mulheres. O movimento que tem divulgado suas ações através do Twitter também pede que o produto seja distribuido gratuitamente nas escolas.
Ayumi Taniguchi, que é líder do grupo, disse que ficou surpresa com o resultado da pesquisa, que revelou que o problema é maior do que se tinha conhecimento até então.
“Vimos que este tipo de problema estava acontecendo em outros países e ficamos surpresas ao ver que a situação no Japão é a mesma”, comentou.
Efeitos na rotina
Mariko (nome fictício) é uma jovem de 19 anos, estudante bolsista de uma escola técnica na província de Kanagawa.
Criada pelo pai, ela enfrentou dificuldades financeiras desde a infância e desde que começou a fazer trabalhos temporários na adolescência, tem bancado todas as despesas básicas dos itens de que necessita com o próprio dinheiro.
Ela contou a emissora NHK que conseguia obter uma renda mensal de ¥130 mil com os trabalhos que fazia, mas desde que a pandemia começou, seu horário de serviço foi reduzido e no último mês e chegou ao extremo de receber apenas ¥20 mil.
Com o prolongamento das restrições provocadas pela pandemia, Mariko foi obrigada a destinar sua renda exclusivamente para a alimentação e ficou sem dinheiro para outros itens que precisa, como absorventes.
“Preciso me alimentar e continuar os estudos de qualquer jeito, então percebi que não tenho mais dinheiro para absorventes. É difícil dizer isso ao meu pai e acabo pegando emprestado das colegas todas as vezes”, revelou.
Eventualmente, Mariko precisa se virar com outros produtos que encontra em casa.
“As vezes eu pego toalha de papel barata que sempre tem na cozinha. Nestes dias fico aflita que o sangue irá sujar a minha roupa e não consigo ficar fora de casa por muitas horas”, diz.
Ela também sofre com fortes cólicas, mas não há como comprar remédios e, por isto, as vezes precisa faltar o trabalho ou a escola.
“Não consigo nem comprar absorventes e me sinto no modo sobrevivência. Fico com medo de acabar com alguma doença por não conseguir usar. Este é um item que as mulheres usam por muitos anos e precisam de uma grande quantidade por ano, acho que seria ótimo se houvesse um suporte”, opinou.