Tóquio – O Japão é um país com uma população idosa expressiva, que chega a quase 30% do total. A taxa de natalidade cai a cada ano e o governo tenta tomar medidas para um problema que pode ser catastrófico para a sociedade no futuro: um número insuficiente de pessoas em idade produtiva.
Em meio à essa realidade, muitos idosos e até pessoas mais jovens que vivem em isolamento, sem muitos contatos, apoio da família ou amigos próximos, acabam enfrentando uma morte solitária dentro de apartamentos pequenos e entulhados. Morrer de solidão é um termo comum no país, designado pela palavra “kodoku-shi” (孤独死).
Em uma reportagem do Portal Gendai Business, um homem contou a história de um conhecido que morreu há três anos. O corpo foi encontrado em dezembro de 2020, cerca de três meses depois de sua morte. Quem contou a história foi Kazuyoshi Okubo*, de 55 anos e o amigo que morreu é “A”, de 74 anos.
Segundo ele, as amizades não eram muito próximas, mas “A” frequentava bares e estava acostumado a encontrar os conhecidos do bar toda semana, incluindo Kazuyoshi. Até que, de repente, ele desapareceu sem dizer nada.
“Eu comecei a estranhar, porque ia nos bares onde ele sempre estava, mas de repente parou de aparecer. Não era um sujeito que costumava atender o telefone e pensei que ele tinha ido para algum lugar para juntar dinheiro e logo voltaria”, contou.
Dois meses se passaram e “A” não apareceu. Kazuyoshi ficou preocupado e começou a telefonar, mas o amigo nunca atendia. Ele tentou perguntar aos outros companheiros de bar, mas ninguém tinha notícias e todos acharam que “A” poderia estar trabalhando durante a noite e ter ido para outra cidade ou província.
“Eu quis ir até a casa dele ver se estava tudo bem, mas eu não sabia seu endereço. Só tinha o telefone, era um amigo de bar. Mas eu estava com um mau pressentimento e tentei ligar muitas vezes”, explicou.
Quando deu três meses do daparecimento de “A”, a polícia ligou para Kazuyoshi.
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A decoberta do corpo
Em um dia de dezembro de 2020, Kazuyoshi foi surpreendido por uma ligação de um policial. Ele soube que o amigo tinha sido encontrado morto em casa e como havia muitas chamadas não atendidas no celular, Kazuyoshi era o único contato que a polícia tinha para descobrir mais informações sobre “A”.
Aparentemente, “A” voltou bêbado do bar para a casa em um dia e acabou caindo e batendo forte a cabeça. Não houve ninguém para socorrer e ele morreu sozinho no apartamento. O corpo ficou lá até que a polícia acabasse invadindo, o que aconteceu quando o cheiro começou a incomodar os vizinhos.
“Tinha um cheiro forte no apartamento e o corpo estava impossível de reconhecer. Foi uma decomposição pegajosa, o tatami estava arruinado, tinha ficado preto por causa dos fluidos do corpo”.
A polícia deduziu que o homem sofreu uma batida na cabeça e a morte foi provocada por isto, mas não foi possível revelar mais detalhes por causa das condições do corpo.
As mortes solitárias no Japão
De acordo com a reportagem, as mortes solitárias no Japão, como o caso de “A”, não são episódios raros. Segundo os dados do governo japonês, o número de idosos que vivem sozinhos em Tóquio e acabaram morrendo em suas casas foi de 4.010 pessoas no ano de 2021.
Os dados de 2011, dez anos antes, foi de 2.618 mortes de idosos que vivem sozinhos. O número quase dobrou em uma década e são os dados apenas da província de Tóquio. Há muitos outros casos em todo o país e quando não há uma família próxima que acompanha o idoso e oferece suporte, os corpos podem ficar muito tempo nos apartamentos até serem descobertos.
Uma realidade que, com o tempo, também pode acabar afetando estrangeiros que vieram sozinhos ao país, estão longe de seus familiares ou já perderam o contato com as pessoas que eram próximas no local de origem.
*nome fictício.