Estudantes denunciam normas abusivas de escolas no Japão: “eles verificam até a cor da nossa roupa íntima”
Fukuoka – A Associação dos Advogados de Fukuoka investigou a existência de normas abusivas nas escolas da província, localizada no sul do Japão.
Durante o ano de 2020, alunos de 69 escolas na cidade de Fukuoka revelaram experiências desconfortáveis com as regras das instituições de ensino.
No Japão, as escolas costumam tomar medidas de padronização, que visam deixar os estudantes com uma aparência similar, prevalecendo a valorização do grupo ao indivíduo.
Este comportamento vem sendo criticado dentro e fora do país e principalmente por especialistas, que relacionam a frequente ocorrência de bullying com a maneira como as instituições tratam os alunos.
Em Fukuoka, a pesquisa dos advogados mostrou que ainda há muitas regras “irracionais”, e quando os alunos questionam, é comum que nem os professores saibam explicar o motivo de determinadas proibições.
Roupa íntima
Uma reportagem da emissora Fuji TV revelou os detalhes da pesquisa e o que os estudantes disseram sobre as regras das escolas.
Uma menina que se formou no ensino ginasial em março contou que se sentiu desconfortável quando o professor a alertou sobre sua roupa íntima.
“Quando estava vestindo o uniforme de ginástica com listras ou estampas por baixo o professor disse para ‘tomar cuidado’ porque era transparante. Eu ouvi que em outra escola os professores estavam checando a cor da roupa íntima dos estudantes”, disse.
Outros comentários mostraram que as regras podem estar indo longe demais em várias instituições.
“A gente teve que fazer uma fila e o professor checou a roupa íntima de todo mundo”, disse um relato. “A roupa íntima foi verificada no ginásio, onde estavam os meninos e meninas juntos”, disse outro. “Se a cor não estiver de acordo, tem que tirar a roupa íntima na escola”.
Os advogados tiveram acesso a um caso ainda mais grave, de um professor que checou a cor da roupa íntima das meninas, provocou constrangimentos e uma aluna parou de ir para a aula depois do ocorrido.
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Verificação dos cabelos
A pesquisa mostrou que a norma irregular que ainda é mais comum nas escolas japonesas está relacionada aos comprimento dos cabelos dos estudantes.
Uma menina que se formou no ginásio também em março comentou sobre isto.
“O comprimento do cabelo precisava estar abaixo das orelhas. Eles me falaram que se a nuca estiver amostra chama atenção dos meninos, então precisava estar abaixo das orelhas. Eu não entendi coisa alguma”, relatou.
Muitos meninos relataram sobre a regra de não poder raspar os cabelos nas laterais.
“Eu perguntei o motivo e o professor disse que é proibido por ordem do governo”, disse um garoto.
O advogado Tomikazu Goto, da Associação dos Advogados de Fukuoka, pediu para que as escolas revejam seus sistemas de regras.
“Os próprios professores não sabem dizer o motivo de não poder raspar nas laterais. As escolas devem parar imediatamente com regras das quais não são capazes de explicar a lógica. A verificação da roupa íntima é um problema que fere os direitos humanos”, comentou.
O governo da província e o Comitê de Educação de Fukuoka disseram que irão verificar se há necessidade de rever as regras das escolas locais.