Há mais de 2,8 milhões de estrangeiros vivendo no Japão e com a vulnerabilidade social provocada pela crise do coronavírus, há pessoas que estão enfrentando pobreza, situação irregular e dificuldade de retornar ao país de origem.
Este é o caso de Isaac (nome fictício), um africano de 32 anos, que vive no Japão há quatro anos.
Nos últimos tempos, viu seus sonhos serem substituidos por desemprego, desesperança e dificuldades financeiras. Ele conversou com a reportagem do portal japonês Nikkan SPA! e contou a difícil realidade que vem enfrentando.
“Fui abusado por um curandeiro que deveria me tratar no meu país de origem. Este tipo de coisa não é rara de onde eu venho. Quando cheguei no Japão fiquei muito emocionado, finalmente eu podia andar na rua livremente e em segurança”, revelou.
Issac não quis tornar público de qual país da África vem, mas conta que se formou em uma escola de estética no país de origem e veio ao Japão com o sonho de trabalhar no ramo da beleza.
“Eu queria desenvolver maquiagem para a pele negra no Japão. Para estudar japonês e me especializar nesta profissão, eu consegui um visto de trabalho e comecei a trabalhar com serviço de limpeza, assim poderia juntar dinheiro para pagar os estudos futuramente”, explicou.
Ele renovava o visto uma vez por ano, mas no terceiro ano, o chefe que era fiador do visto voltou ao país de origem e ele acabou sem emprego e sem fiador.
Antes que o visto vencesse, tentou conversar no trabalho sobre estender o contrato, mas tudo que ouviu era que deveria conversar em outro momento sobre o assunto. O visto acabaria vencendo sem resolver a questão e como o país de origem é considerado perigoso, pensou que poderia pedir o reconhecimento como refugiado.
“Sem saber direito o que fazer, meu visto acabou vencendo. Fiquei ilegal e passei a viver com a economia que eu estava guardando para os estudos”.
Prisão
Um dia, Isaac foi a um bar com uns amigos e começou a beber. Ele conta que foi atacado por três japoneses e foi na polícia para tentar registrar a denúncia.
“Fui até um posto policial pedir socorro, mas quando cheguei lá dizendo que queria fazer uma denúncia, eles perguntaram se eu tinha um cartão de residente válido. Como o meu visto tinha vencido, eu disse que não tinha e ao invés de ser protegido pela polícia, acabei sendo preso”.
Isaac foi detido pela Imigração de Tóquio por um momento, mas em novembro do ano passado, recebeu a liberdade provisória, conhecida como “karihoumen”.
O benefício é concedido aos residentes ilegais mediante algumas circunstâncias, mas possui limitações e uma delas impede que o estrangeiro exerça atividades de trabalho no Japão.
Por causa disso, Isaac acabou sem nenhuma renda e conseguiu algum dinheiro emprestado com amigos.
Rotina
Isaac conseguiu viver em um Guest House com a ajuda de um amigo, mas o local cobra aluguel, ele não pode trabalhar e não tem nenhum dinheiro guardado.
“Passo o dia olhando redes sociais, pois não há muito o que eu possa fazer. Consigo fazer uma única refeição ao dia, que consiste em um pouco de arroz e vegetais, que eu ganho de uma instituição de caridade”, contou.
Na geladeira de seu quarto, há apenas um pouco de arroz e alguns vegetais.
Mesmo assim, ele continua vivendo no Japão com a esperança de ser reconhecido como refugiado e então ganhar liberdade para restaurar sua vida de novo.
No entanto, sabe que será difícil, pois o Japão reconhece poucos refugiados ao ano.
De acordo com os dados do Ministério da Justiça, em 2020, 10.375 estrangeiros solicitaram o reconhecimento como refugiado, mas o benefício só foi concedido para 44 pessoas.
Outras 37 pessoas, apesar de não terem recebido o status de refugiado, tiveram a residência autorizada no Japão por questões humanitárias.
“A minha família diz para eu retornar quando a questão da pandemia se acalmar, mas como passei dos 30 anos, se voltar serei obrigado a me casar com uma pessoa que não conheço, é assim que as coisas funcionam no meu país. Eu só queria realizar o meu sonho no Japão, trabalhar e viver com liberdade. Agora me restam poucas esperanças”, lamenta.