O medo tomou conta do norte do Japão, onde moradores passaram a carregar sinos para tentar afastar ursos, enquanto placas alertam sobre o perigo crescente. Desde abril, o país registra um número recorde de ataques, com 13 mortes confirmadas — o dobro do total do ano anterior.
As autoridades estão em alerta após uma sequência de incidentes envolvendo ursos que invadem casas, aparecem perto de escolas e até causam confusão em supermercados. A província de Akita, no norte, é uma das mais afetadas.
“Quase todos os dias ouvimos sobre alguém sendo atacado ou ferido”, relatou o caçador tradicional Kakeru Matsuhashi, de 28 anos. “Está se tornando algo pessoal — e é assustador.”
O aumento dos ataques é atribuído a dois fatores principais: o crescimento acelerado da população de ursos e a má colheita de bolotas neste ano, o que deixou muitos animais famintos. Especialistas alertam que algumas regiões montanhosas estão “superlotadas” e sem recursos naturais suficientes para sustentar os ursos.
Para conter o problema, o governo japonês autorizou o envio de tropas para auxiliar na captura e na caça, e permitiu que a polícia utilize armas de fogo em casos de risco iminente. Os animais podem pesar até meia tonelada e correr mais rápido que um ser humano.
Entre as vítimas recentes estão um homem de 67 anos, encontrado morto com marcas de mordidas do lado de fora de casa em Iwate, e outro, de 60 anos, que teria sido atacado enquanto limpava um ofurô em uma pousada de águas termais.
Segundo dados oficiais, mais de 100 pessoas já ficaram feridas apenas nos primeiros seis meses do ano fiscal.
A população de ursos no Japão vem crescendo rapidamente. O número de ursos-pardos já passa de 12 mil, enquanto o de ursos-negros asiáticos chega a 42 mil, segundo relatório do governo. O fenômeno é impulsionado pela abundância de alimento e pelas mudanças climáticas, que favorecem o aumento das espécies.
Com menos pessoas vivendo nas áreas rurais — resultado da baixa natalidade e da migração dos jovens para as cidades —, os ursos encontram cada vez menos barreiras para se aproximar de áreas habitadas. “Os habitats dos ursos estão avançando sobre os humanos”, explica Naoki Ohnishi, pesquisador do Instituto de Pesquisa Florestal.
Para o médico Hajime Nakae, do Hospital Universitário de Akita, a situação é inédita: “Sinto como se estivesse vivendo dentro de um safári de ursos.” Ele trata vítimas de ataques há três décadas e afirma que os animais estão cada vez mais ousados: “Antes, um urso assustado fugia após o primeiro golpe. Agora, eles atacam de frente.”
Diante do cenário, especialistas defendem um abate mais rigoroso para controlar a população. Apenas no último ano fiscal, o Japão eliminou mais de 9 mil ursos, e outros 4.200 foram abatidos entre abril e setembro de 2025. Só em Akita, o número já ultrapassa mil.
Apesar da preocupação, há um alívio temporário à vista: com a chegada do inverno, os ursos devem entrar em hibernação nas próximas semanas. No entanto, especialistas alertam que, sem medidas eficazes de controle e preservação equilibrada, os ataques poderão voltar com ainda mais força na próxima primavera.





