Nagasaki – Yoshito Iwanaga iniciou sua história de amor com Mutsumi na década de 1980. Artista e ex-professor, Yoshito passou a ensinar a arte da pintura para ela e o contato resultou em um casamento celebrado em 1986.
Mutsumi também se tornou artista, pintou muitas telas e colecionou prêmios. Os casal teve um filho, que cresceu e já saiu de casa. Depois dos 60 anos de idade, estavam prontos para voltar a curtir a vida só os dois, como era no começo. Mas algo perturbador aconteceu e mudou o destino para sempre.
Yoshito conta que percebeu que havia algo de errado com Mutsumi há quatro anos, em 2018. A esposa estava internada e fez um desenho, mas o resultado de sua arte foi infantil. Apesar de ter a habilidade artística plenamente desenvolvida e de ter se destacado com suas pinturas no passado.
Mutsumi foi diagnosticada com demência semântica antes de completar 65 anos de idade. Este é um subtipo da degeneração lobal frontotemporal (DLFT), bem menos comum que o Mal de Alzheimer que costuma afetar 70% dos pacientes com demência.
No caso da demência semântica, é cerca de 1% dos casos e é ainda mais raro acontecer em uma idade considerada precoce. O professor Akira Tsujino, do Hospital Universitário de Nagasaki, explicou em uma reportagem da emissora Fuji sobre as particularidades da doença.
“O Mal de Alzheimer afeta a memória e é o tipo mais comum. No caso da demência semântica, o paciente passa a não entender o significado das palavras. Aos poucos, não consegue mais se comunicar, falar ou entender o que está sendo dito. A ocorrência é um pouco diferente’, disse.
E foi o que aconteceu com Mutsumi. A artista perdeu a habilidade de desenhar e pintar primeiro. Em seguida, perdeu as palavras. Passou a entender cada vez menos e se comunicar com dificuldade. Depois que a doença progrediu, parou de falar totalmente e quase não exibe uma expressão facial.
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As tentativas e o amor do marido
Não conseguir mais interagir com a esposa é uma dor inestimável para Yoshito, mas ele segue tentando estímulos, cuidando dela e repete que a ama mesmo que Mutsumi não seja capaz de compreender essa palavra.
A reportagem da Fuji mostrou uma surpresa de Yoshito. Ele preparou uma exibição com os quadros de Mutsumi em uma galeria de Nagasaki, na região de Togitsu. O ambiente foi remodelado de acordo com o apartamento que Mutsumi morava na região.
“Você se lembra? Olha só essa obra de arte. Você se lembra disso?”, o marido perguntou ao chegar no local acompanhado da esposa. Ela olhava para as artes ao redor, o local que devia parecer familiar, mas não havia sinal de reconhecimento em seu rosto ou capacidade de dizer qualquer coisa.
Uma vez por mês, Mutsumi faz uma checagem de saúde e o marido cuida dela no dia a dia e praticamente sozinho. Ele costuma buscar e trocar informações sobre o tratamento para este tipo de demência e tenta provocar estímulos, ainda que não gerem resultados.
“É muito triste cuidar de alguém em uma condição grave, então estou sempre consultando. A gente se fortalece se tem alguém para conversar sobre isso”, comentou.
A esposa perdeu o brilho e a aparência que tinha antes da demência e se tornou como uma criança pequena que precisa de todos os cuidados. Mas Yoshito diz que seu amor por ela só se tornou mais profundo depois da doença.
“Pode parecer que quanto mais difícil for cuidar da pessoa, quem está cuidando cansa e deixa de amar, mas não é o que aconteceu comigo. Quanto mais eu compreendo ela, mais profundo se torna o meu amor. Mesmo que eu diga isto, ela não é capaz de entender mais. E sei que nem na hora da morte ela poderá me dizer algo”, lamentou.
Não há o que fazer para melhorar ou reverter os danos da doença, mas Yoshito está determinado a deixar a vida da esposa o mais confortável e leve possível e expressar seu amor por ela até o último dia.