Estamos em uma era em que qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo, pode se tornar um amigo através das redes sociais. Nunca foi tão fácil fazer amigos como agora e, ao mesmo tempo, as pessoas estão mais solitárias.
Mesmo que haja inúmeras conexões pelas redes sociais, você publica algo e não recebe a reação que esperava. Observa as publicações de um conhecido que tem uma vida fantástica e se compara, se sente depressivo por não ter uma realidade tão próspera e feliz.
Não é que não tenha amigos, na verdade, você está rodeado por amigos. Mas não há conexões profundas, pessoas capazes de compreendê-lo de verdade. E então, você sente que não pertence a um lugar, você se sente só e perdido.
Muitos devem se identificar com essas características, mencionadas em uma reportagem da emissora Fuji TV. A matéria que fala de redes sociais e solidão trouxe uma entrevista com o professor da Universidade de Waseda, Mitsunori Ishida.
Ishida é especialista e pesquisador na área das relações humanas e networking e afirma: temos muitas conexões e nos sentimentos solitários. É uma situação contraditória, mas há algo por de trás disto.
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Solidão e redes sociais
1. Muitas pessoas, principalmente jovens, se sentem solitários apesar das conexões nas redes sociais. O que o senhor pensa disso?
As redes sociais cresceram no Japão a partir da década de 2000 e trouxeram uma situação nova. Se você quiser um amigo, você precisa agir intencionalmente para se conectar com as pessoas. Antigamente, a gente precisava do telefone fixo ou mandar cartas para se conectar com pessoas em localidades distantes. Agora, se tornou natural se conectar com qualquer um, em qualquer lugar do mundo.
É irônico porque neste momento em que podemos nos conectar com qualquer um, estamos mais sensíveis ao estado em que não estamos conectados. Se o celular passar um dia em silêncio, você pensa que o mundo te esqueceu. O celular informa quando você mandou mensagem, quando a pessoa recebeu e leu. Quanto mais sensíveis são as conexões, mais forte se torna o sentimento de solidão.
2. Por que as pessoas se sentem infelizes com as publicações dos outros?
As pessoas tendem a compartilhar seus momentos mais felizes nas redes sociais e isto acontece muito. Por exemplo, imagine uma mãe que estava agitada cuidando do filho e estava com uma amiga e então fizeram algo bom para a criança e postaram. Outra mãe olha a publicação e pensa que não está indo bem em sua própria maternidade, sente ciúmes.
No Instagram, grupos de estudantes divulgam fotos brindando juntos. Outro estudante olha a cena e se sente mal por não ter sido convidado. O sentimento de auto-afirmação despenca e ficam as emoções ruins.
3. O que o senhor pensa das pessoas que se sentem só apesar de terem amigos?
É um sentimento muito comum, principalmente nos estudantes. Eles estão nos clubes de atividades e fazem trabalhos temporários, mas não conseguem ser eles mesmos. Não há ninguém para falar sobre o que realmente pensa, do jeito que realmente é. Há um medo de não serem aceitos caso ajam como são.
Já ouvi estudantes dizendo que não podem brigar, pois não terão oportunidade de fazer as pazes. Precisam tomar cuidado sempre com as relações e mesmo que tenham amigos, não agem com honestidade. O resultado disso é que fazem parte de grupos, mas não há ninguém que os conheça de verdade e isto gera a solidão nos jovens.
4. A pandemia tem influenciado nas relações entre as pessoas?
Acredito que há uma influência gradual. Conforme se desenvolve uma sociedade com menos contato físico e direto entre as pessoas, passa a ser necessário um motivo para justificar um encontro pessoal. Muitas pessoas passam a se distanciar e evitar ver alguém presencialmente, o que agrava o sentimento de solidão.
5. Deixe uma mensagem para quem está sofrendo com a solidão:
É um pouco difícil. Eu acho que as pessoas não precisam forçar a barra para tentar fazer amigos e quem está sofrendo psiquicamente pode entender as minhas palavras como um “força!” e o que eu quero dizer é mesmo parecido com isso.
Para quem quer fazer conexões reais, há vários caminhos. É preciso dar o primeiro passo para encontrar e se não gostar, tente outra coisa. Eu mesmo me tornei um voluntário de proteção de florestas e não entrei nessa pensando em fazer amigos, mas fiz várias conexões. Acho interessante iniciar uma atividade nova, diferente daquilo que você faz hoje.
Nas redes sociais, vemos as relações das outras pessoas e nos sentimos sozinhos. Precisamos tomar cuidado para não acabar com as relações que temos e ainda não podemos ser nós mesmos. Isto tudo intensifica a solidão. Não digo para abandonar isto, mas é aconselhável para quem está sofrendo tomar consciência das redes sociais e evitar receber tanta influência de notificações e publicações.