Tóquio – Algumas regiões do Japão precisam lidar com o aparecimento frequente e arriscado de ursos nas cidades, mas os animais de pelagem negra e garras enormes não representam a única ameaça. Na verdade, muitas regiões rurais do país estão enfrentando o aumento da população de javalis e os porcos selvagens chegaram a tomar conta de uma ilha no Mar Interior de Seto.
A pequena ilha de Ikunoshima, que tem uma população idosa de apenas 8 habitantes, recebeu a visita indesejada dos animais, que atravessaram na baixa da maré e se reproduziram no local. São apenas 8 pessoas convivendo com mais de 100 javalis, em uma situação que se tornou arriscada, principalmente pelo fato de que o morador mais jovem já tem quase 60 anos.
Mas os porcos selvagens estão presentes em todo o Japão e podem ser encontrados com facilidade em zonas rurais, florestas, montanhas e eventualmente nas cidades. Os ataques tem sido frequentes e estão preocupando o governo japonês, de acordo com uma reportagem do Jornal Asahi. Os dados do Ministério do Meio Ambiente mostram que desde 2016, o número de ataques por ano deixava entre 50 e 70 pessoas feridas.
Porém, no ano fiscal de 2022, este número subiu para 81 e entre abril e dezembro de 2023, chegou a 42. A contagem do ano fiscal de 2023 termina em março deste ano.
O número de capturas por caçadores também aumentou em 4 vezes a partir de 2020. Apenas no ano passado, os caçadores abateram 590 mil javalis considerados perigosos. São animais inteligentes, medrosos e nervosos. Quando se sentem acuados ou ameaçados, não hesitam em atacar as pessoas próximas e já causaram muitas mortes no Japão.
De acordo com o professor da Universidade Azabu em Kanagawa e especialista em comportamento animal, Yusuke Eguchi, as condições atuais, provocadas pelo encolhimento da população, tem favorecido o ambiente para a sobrevivência e reprodução dos porcos selvagens.
Assim como na Ilha de Ikunoshima, eles encontram espaço adequado para viver em áreas que estão menos impactadas pela presença de pessoas e em locais que acabaram abandonados com o tempo.
“A população nas regiões rurais do Japão está idosa e tem reduzido. Há terrenos de cultivos de alimentos, florestas de bambus e campos frutíferos que foram abandonados depois que seus cuidadores morreram. Os javalis encontram comida e não há muita presença humana para ameaçá-los, então eles se reproduzem e tomam conta do local”, explicou.
Para evitar que a população de porcos selvagens cresça ainda mais e se torne uma ameaça para muitas comunidades, vilarejos, bairros e locais de turismo, é preciso um bom manejo desses locais.
“Não dá para simplesmente abandonar campos de cultivo e frutíferos, é preciso limpar os terrenos. A administração pública também precisa dar um suporte, controlar ou fiscalizar esses espaços antes que se torne um problema maior”, advertiu.
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Como lidar com os porcos selvagens
Para a população comum do Japão, incluindo os estrangeiros turistas e residentes, sempre vai existir a possibilidade de se deparar com um javali. Se não for no bairro onde mora, pode acontecer durante um passeio na montanha, para ver uma cachoeira, as flores da primavera ou a coloração das árvores durante o outono.
Um guia da província de Chiba alertou sobre o que pode ou não ser feito ao se deparar com javalis. Ao perceber a presença do animal, o mais importante é não provocar o ataque, o que acontece muitas vezes pelo pânico e histeria do momento, além da falta de experiência com esse tipo de situação de risco.
O indivíduo deve manter a calma em primeiro lugar e evitar atiçar o animal. Não faça movimentos bruscos, se afaste devagar e silenciosamente. O ideal é recuar sem chamar atenção.
Se for atacado, o manual recomenda: não revide por impulso, agacha-se, feche as pernas e proteja seus pontos vitais em uma posição defensiva. São animais que tem bastante força física e podem provocar ferimentos graves.
Alguns comportamentos devem ser evitados para que um ataque imprevisível não aconteça. Jamais bloqueie a direção do javali, não grite, não se movimente rápido demais e não tente pegar galhos para dar uma paulada ou jogar pedras. A melhor forma de agir nessa situação é sempre com o mínimo de barulho e de forma lenta, para que o porco não ache que está diante de uma ameaça.