Tóquio – O mundo ocidental já se surpreendeu bastante com os japoneses. Enquanto que no Brasil e em muitos outros países é raro que uma carteira ou objeto de valor perdido seja devolvido ao dono, essa “mágica” acontece com frequência no Japão.
De acordo com os dados da polícia japonesa, em média, mais de 60% das carteiras perdidas são devolvidas aos donos por ano. Em 2018 este volume bateu um recorde, se aproximando de 70% de casos solucionados.
O mesmo acontece com outros objetos. Os celulares costumam ser alvos de muitos furtos no Brasil, mas no Japão, cerca de 90% dos smartphones perdidos acabam de volta nas mãos dos donos.
Muitas vezes o cidadão que encontrou algo de valor nas ruas entrega para a polícia, mas há muitos casos de a pessoa que perdeu voltar ao local onde acredita ter perdido e encontrar seu objeto.
Esta atitude de honestidade e ética profunda é motivo de admiração entre os estrangeiros e já foi tema de muitas reportagens no Brasil e outros países. Uma reportagem do portal President Online trouxe um outro ponto para essa história.
O historiador Uryu Naka, autor do livro “Os japoneses e as questões culturais” (tradução livre, original: Kyouyou to shite no Nihonjin-ron (教養としての「日本人論」) explica que o comportamento está relacionado com questões históricas e não com uma consciência elevada para ajudar quem precisa.
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A honestidade no Japão antigo
Culturalmente, os japoneses prezam pelo coletivo e o senso de honestidade faz parte desta cultura. Eles colocam as organizações sociais e grupos na frente do indivíduo. Nas escolas, as crianças são padronizadas com regras rígidas e seguir o grupo é natural e esperado.
Esta inclinação tem origem na maneira como os japoneses viviam desde antigamente, segundo o historiador.
“Os japoneses entregam objetos perdidos nas delegacias porque desde sempre viveram em pequenas comunidades onde todos se conhecem, sabem onde cada um mora, o que faz e precisam cooperar entre si. Esse sentimento de coletividade influencia até hoje o comportamento japonês”, explicou.
As aideias de antigamente eram focadas na atividade agrícola, tinha uma estrutura organizada e regras mantidas por todos. “Se alguém faltasse aos encontros da comunidade, matasse o trabalho coletivo ou roubasse algo de alguém, logo seria descoberto e punido”, disse.
Desde o Japão antigo, não devolver um item perdido era uma falha grave e o infrator perdia seu meio de vida. Era comum que devolvessem os objetos mesmo contra a vontade para evitar punições.
O Japão moderno é feito de grandes cidades e a vida coletiva em aldeias só acontece nos vilarejos rurais do país. Mesmo assim, o hábito passado pelas gerações se mantém e hoje está relacionado com a honestidade admirável que os japoneses demonstram ter.