Misato – Muitas cidades japonesas estão passando por grandes transtornos por causa dos ursos e a escassez de alimentos nas montanhas. Eles estão surgindo em zonas urbanas e residenciais, invadindo terrenos, plantações e quintais em busca de alimentos.
Há um risco real de que os animais se tornem agressivos e acabem atacando, ferindo e até matando os moradores se forem surpreendidos. Porém, em muitos casos, as autoridades são acionadas e os ursos são retirados de onde estão sem ferir ninguém.
Um caso ocorrido em Misato, na província de Akita no nordeste do Japão, poderia ter acabado bem, mas não acabou. Segundo uma reportagem do portal Post Seven, no dia 4 de outubro, três ursos, uma mãe e seus filhotes, se alojaram no galpão de uma loja de tatami.
Os responsáveis pela loja perceberam os ursos e a situação se tornou delicada. Por causa dos filhotes, a mãe poderia se tornar bastante agressiva. As autoridades foram acionadas e no dia seguinte, os três animais, que eram da espécie urso-negro-asiático, foram capturados sem que tivessem ferido ninguém.
Logo em seguida, a prefeitura seguiu um protocolo que gerou revolta. Em vez de devolver a família de ursos para a montanha, os animais acabaram sacrificados. A notícia de que os ursos foram capturados e exterminados saiu na mídia e no mesmo dia, a situação se tornou caótica para os funcionários da prefeitura da Misato.
Um funcionário que não se identificou, descreveu:
“No mesmo dia o escritório recebeu mais de 300 ligações. Foi uma situação em que ninguém conseguia cumprir suas atividades de trabalho normais”.
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A fúria da população
As ligações foram numerosas e em tons diferentes. Houve muitos casos de lamentações e pedidos como: “eu quero que vocês deixem os ursos fugir” e “como vocês foram capazes de matar os filhotes? Coitadinhos”.
Mas a prefeitura também teve que lidar com ligações agressivas, pessoas dizendo que eles não eram seres humanos, não tinham coração e deveriam “ir para o inferno”.
“Algumas pessoas gritaram no telefone, outras estavam chorando. E houve até ameaças para o prefeito que a gente cogitou ir na polícia. A maioria das ligações foi anônima, mas pela voz dava para perceber que muitos eram idosos e quando a gente perguntava de onde eram, muitos viviam em outras províncias”, comentou o funcionário.
E não foram só os telefonemas, houve também muitos e-mails que totalizaram 1.200 casos de reclamações públicas por causa da morte dos ursos.
Um representante do Departamento de Prevenção de Ursos da Província de Hokkaido analisou a situação e comentou sobre como as notícias de extermínio de ursos mexem com o emocional de pessoas comuns.
“Quando essas notícias são publicadas, é natural que aconteça uma revolta. Há muitos homens idosos, mas também mulheres jovens preocupadas com os ursos. Principalmente no caso dos filhotes. E a imagem dos ursos também gera impacto”, analisou.
Mas a polêmica também tem um outro lado. Um funcionário de outra prefeitura, responsável pelo extermínio de ursos nesses casos, disse ao Portal Post Seven que as pessoas que reclamam e demonstram pena dos ursos não são as mesmas que enfrentam o perigo diário de conviver com eles.
“É fácil lamentar quando se está de fora da situação. A gente viu uma mulher que saiu de Tóquio para o interior comentar que era contra a morte dos ursos, mas depois de viver em um local onde eles aparecem com frequência e sentir um temor diário, entendeu o perigo. Nós tomamos muitas providências para capturar quando necessário e tem casos que não tem outra saída”, disse.
Há muitas variáveis entre a decisão de matar os ursos ou devolver para a montanha. A província de Akita e cidades como Misato precisam lidar constantemente com esses animais em locais urbanos e os riscos para os moradores. É sempre delicado tomar as providências para capturá-los sem que ninguém saia ferido.
No fim das contas, a prefeitura não deu nenhuma declaração se irá considerar outros meios de lidar com os ursos sem precisar sacrificá-los.