Em meio ao colapso nos mercados financeiros e à crescente pressão econômica, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (9) uma pausa de 90 dias nas tarifas sobre importações da maioria dos países — exceto a China, cujas tarifas foram elevadas para 125%. A medida, segundo especialistas, transforma o embate global em um confronto direto entre as duas maiores economias do mundo.
O recuo parcial ocorre após semanas de turbulência nos mercados, quedas nos preços de ações e títulos, e alertas de empresários e analistas sobre o risco de recessão. O índice S&P 500 saltou 9,5% após o anúncio. Ainda assim, a nova política tarifária impõe uma tarifa padrão de 10% a muitos países, valor inferior às alíquotas aplicadas a parceiros como Japão (24%) e Coreia do Sul (25%).
Guerra comercial intensificada com a China
A China respondeu com firmeza às novas tarifas, sinalizando que está disposta a resistir à pressão de Washington. O Ministério do Comércio afirmou que o país tem “meios abundantes” para tomar contramedidas e que está preparado para “lutar até o fim”. Apesar disso, o governo chinês tem evitado negociações diretas, ao contrário de outras nações que já sinalizaram disposição para dialogar.
A tensão sino-americana se agravou apesar da expressiva interdependência comercial: em 2024, os EUA exportaram US$ 199 bilhões para a China, enquanto importaram US$ 463 bilhões. Produtos como soja, aeronaves e semicondutores estão entre as principais exportações americanas, enquanto eletrônicos e roupas dominam as importações chinesas.
Pressão dos mercados e sinais contraditórios
Trump justificou o recuo como uma resposta ao “nervosismo” causado pela instabilidade dos mercados. “As pessoas estavam com medo”, disse o presidente, destacando a queda dos preços dos títulos e o aumento das taxas de juros. No entanto, membros do próprio governo ofereceram explicações conflitantes. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o secretário de Comércio, Howard Lutnick, negaram que os mercados tenham motivado a decisão, atribuindo a pausa ao interesse de países em negociar.
Analistas criticaram a falta de clareza da Casa Branca. John Canavan, da Oxford Economics, destacou as “mensagens contraditórias” do governo, enquanto investidores como o bilionário Bill Ackman clamavam publicamente por uma trégua, posteriormente elogiada como “brilhante” após ser adotada.
Impactos globais e repercussão internacional
A mudança estratégica de Trump também gerou reações na comunidade internacional. A Câmara de Comércio Europeia na China acusou os EUA de romper com princípios fundamentais de livre mercado, alertando para aumento nos custos e ineficiências que devem recair sobre o consumidor. A diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, afirmou que a guerra comercial pode “prejudicar seriamente” a economia global e fragmentar o comércio por linhas geopolíticas.
Países como Japão, Coreia do Sul, Índia e Vietnã já manifestaram interesse em negociações, segundo Bessent, que prometeu acordos “sob medida” durante a pausa de 90 dias.
Consequências para os EUA
Internamente, a política tarifária tem preocupado empresários. O CEO da Delta Air Lines, Ed Bastian, disse que a falta de estratégia clara “criou caos no planejamento” e levou a companhia a rever suas expectativas para 2025. Economistas preveem riscos de recessão, apontando choques simultâneos em confiança do consumidor, comércio, emprego e preços.
Apesar das controvérsias, Trump mantém a retórica de que as tarifas fazem parte de uma estratégia negociadora. “Muitas vezes, não é uma negociação… até que seja”, afirmou, reforçando sua postura combativa e imprevisível.
Enquanto isso, tarifas de 25% continuam vigentes sobre produtos como aço, alumínio e automóveis. Medicamentos e outros itens podem ser incluídos nas próximas semanas, aumentando a tensão entre política comercial e estabilidade econômica.
A próxima fase será decisiva: os 90 dias de pausa podem indicar um caminho para acordos bilaterais ou marcar o início de uma nova escalada nas disputas comerciais lideradas por Trump.