Tóquio – O mundo está cada vez mais digitalizado e os aplicativos de produtividade, gestão de equipes, planilhas e PDF’s tem aumentado a eficiência de funções empresariais.
Mas o Japão, reconhecido país da tecnologia, parece perdido no velho ditado: casa de ferreiro, espeto de pau. As empresas ainda resistem à digitalização, seguem padrões antigos e insistem em tecnologias obsoletas, como o fax.
Uma pesquisa da multinacional americana Adobe mostrou que entre sete nações desenvolvidas, os japoneses são os que mais gastam tempo com as tarefas e obrigações de trabalho: cerca de 35,5% do período de atividade.
E 1% do tempo equivale a 20 horas por ano. Em comparação com a Nova Zelândia que apresentou a menor taxa (29,7%), os japoneses trabalham 116 horas a mais.
A realidade do Japão parece estar muito longe da tendência dos negócios de reduzir os custos, aumentar a eficiência e a praticidade com uma melhor performance de tempo. O portal Nikkan SPA! conversou com um especialista em informação digital e redução de horas de trabalho para entender os desafios que o Japão enfrenta para melhorar o desempenho e o uso do tempo de seus trabalhadores.
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Os serviços manuais e analógicos
Quem deu a entrevista foi Amane Sawatari, CEO da Soshiki Henkaku Lab, uma empresa que vem promovendo a transformação digital em companhias e organizações, com a missão de acelerar a entrada do Japão em uma nova era digital.
O entrevistador do portal perguntou se o Japão já não estaria entrando na era da promoção da informação digital, ainda que lentamente. Mas Amane negou esta ideia e deu um exemplo forte: a questão das agências do governo japonês.
“As agências públicas são as primeiras a levantar a bandeira da digitalização. Mas na prática, quando o cidadão tem que fazer a declaração do imposto de renda, ajuste anual e outras burocracias, é preciso entregar uma imensidão de documentos em papéis que roubam o tempo e a disposição de quem precisa cumprir com suas obrigações”, explicou.
E os novos empreendedores, quem pretende abrir um negócio e precisa registrar suas atividades, acaba preso na complexidade de um sistema pouco eficiente.
“Os empreendedores que estão cheios de gás precisam de papéis de registros, permissões, entregas de relatórios e documentos. Eles se perdem na vastidão de serviços de escritório enquanto não veem o lucro. Se tornam muito ocupados com o ato de brincar de trabalhar. Não é exagero chamar o Japão de “O Grande País do Serviço de Escritório”, é uma situação grave”, disse.
Amane também acredita que há alguns empecilhos para que as mudanças aconteçam de forma positiva.
“O regulamento de demissão é rigoroso e muitos funcionários não podem ser demitidos. Desta forma, as empresas os colocam para realizar trabalhos inúteis de escritório e mantém as funções importantes preservadas”, comentou.
A resistência tecnológica também pode ter algumas causas culturais, como a disposição dos japoneses para seguir regras antigas nas corporações, ainda que não façam mais sentido e em manter os velhos padrões de trabalho, evitando tentar coisas novas que poderiam trazer melhorias, mas que exigem adaptação.