Tóquio – Setembro é o mês da prevenção de desastres naturais no Japão, assunto de extrema importância para adultos e também para crianças. Na hora em que um desastre inesperado acontece, como um terremoto ou um tsunami, saber como agir e agir rápido pode garantir a sobrevivência.
Nem todos os desastres são inesperados. No caso dos tufões, por exemplo, é possível saber a dimensão do fenômeno, a rota e os possíveis efeitos da passagem. Quando há uma estimativa de alto risco, as prefeituras orientam moradores para que iniciem a jornada rumo aos abrigos com antecedência, principalmente idosos e pessoas com limitações físicas.
De qualquer forma, a prevenção se faz importante em todos os tipos de desastres e cada um deles exige cuidados diferentes. Para quem vive no Japão, é essencial preparar mantimentos e um estoque de água para o caso de uma tragédia prejudicar o fornecimento por um longo período.
Este é um assunto delicado e difícil de abordar com crianças. Ao tentar falar sobre um desastre, é comum que o pequeno fique assustado, diga que tem medo de terremoto e que tem medo que os pais morram.
O lado emocional é forte e pode prejudicar a compreensão, mas há solução para isto. Especialista em psicologia infantil, Megumi Sato explica que há formas de conter o sentimento de medo nas crianças e aumentar a consciência sobre desastres ao mesmo tempo.
Ela compartilhou algumas dicas e orientações importantes em uma entrevista para a emissora Fuji TV. Confira abaixo.
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Cuidado com imagens de desastres
Como falar sobre prevenção com as crianças que estão assustadas com a possibilidade de ocorrer um terremoto ou uma enchente?
O Japão é um país com muitos desastres naturais e não podemos evitar a tragédia que vem da ocorrência de um terremoto ou um tufão. Quando acontece um desastre, os adultos acompanham nas notícias e aparecem muitas imagens chocantes da destruição.
Essas imagens ajudam a fortalecer a consciência sobre a importância da prevenção, mas no caso das crianças, podem gerar um impacto negativo enorme e um efeito indesejado. Por exemplo, este ano aconteceram os deslizamentos de terra em Atami e estamos em uma era em que pessoas comuns podem compartilhar imagens fortes. Este tipo de imagem é muito assustadora para as crianças.
A prevenção é sobre agir antes que aconteça, porque depois que aconteceu não há mais nada a fazer. O foco deve ficar nas ações necessárias para superar um momento difícil e proteger a vida. No caso das crianças, o ideal é manter o foco no antes, no que deve ser feito e não na exibição de imagens que mostram destruição.
Que materiais devem ser utilizados para ensinar?
O melhor material para ensinar crianças sobre prevenção são os livros com ilustrações, como os livros infantis publicados pela Kinnohoshi. As ilustrações ajudam no entendimento e o foco dos livros é no que fazer para proteger a vida. Não há elementos que gerem medo sem necessidade.
Há muitos livros voltados para crianças com o objetivo de ensinar sobre prevenção de desastres. O ideal é mostrar algumas opções e ver qual delas gera mais interesse no seu filho. Os pais podem ler o livro junto com os filhos, preparar juntos uma mochila com itens essenciais e fazer um treinamento de ida até o abrigo.
Esse tipo de atividade aumenta a consciência sem necessariamente gerar medo.
Tem algo que deve ser evitado pelos pais?
Quando acontece um desastre, é importante não deixar a TV ligada o tempo todo. Os noticiários são muitos úteis para saber a situação real e ficar informado sobre a tragédia, mas as imagens geram um efeito muito negativo nas crianças.
As crianças não prestam atenção no que está sendo dito ou não entendem, mas elas ficam paralisadas com as imagens. Se os pais não tiverem ao lado para poder explicar a situação ao filho, é melhor não deixar que a criança fique assistindo sozinha.
Qual a idade mais adequada para ensinar sobre prevenção?
Quanto mais idade a criança tiver, maior será a compreensão. A personalidade da criança também deve ser levada em conta. Uma criança que tem tendência ao medo por estímulos desde bebê pode ser muito sensível a este tipo de conversa.
Em termos gerais, o ideal é começar a falar sobre desastres desde a escola primária. É a época em que a criança começa a passar mais tempo longe dos pais e deve entender que quando acontecer um desastre natural, é possível que os pais não estejam por perto.
O ideal é apresentar livros ilustrados sobre o tema enquanto a criança estiver no jardim de infância. A partir da idade primária, começar a trabalhar o conhecimento necessário da ação e reforçar a consciência. Neste passo, o aprendizado flui com mais naturalidade.