Tóquio – Mesmo quem afirma que nunca cairá em um golpe pode acabar surpreendido pelo destino algum dia. As quadrilhas que atuam com golpes por telefone ou pela internet são engenhosas, sabem aplicar gatilhos que funcionam e conduzir a vítima a um estado mental favorável para tomar a ação que os criminosos desejam.
Os golpes por internet e telefone são problemas comuns em qualquer país, mas o Japão tem enfrentado uma situação cada vez pior. De acordo com os dados da Agência Nacional de Polícia (NPO, em inglês), até maio deste ano, houve 7.788 casos reconhecidos de golpes no país e uma perda financeira acima de ¥15,3 bilhões.
Em relação ao mesmo período do ano passado, houve um crescimento de 28% na aplicação de golpes (1.703 casos a mais) e a perda financeira é de ¥2,88 bilhões a mais do que o registro anterior. Os dados mostram que os golpistas estão sendo bem-sucedidos nas tentativas de enganar as vítimas.
Mas quais são os truques utilizados? Como eles conseguem fazer uma pessoa desconhecida concordar em fornecer um alto valor monetário sem duvidar da história ou da pessoa do outro lado da linha?
Em uma entrevista para a Emissora Fuji, o professor da Universidade Niigata Seiryo e especialista em psicologia criminal, Mafumi Usui, explicou qual é o mecanismo utilizado para enganar e como os criminosos conseguem o que querem mesmo nos casos em que a situação é obviamente mentirosa.
De acordo com o professor, a premissa básica do ser humano é acreditar antes de desconfiar e os criminosos utilizam isto de má fé.
“O ser humano tende a acreditar no outro, então, se você recebe uma ligação e a pessoa do outro lado da linha se identifica como um policial, um funcionário do banco ou um funcionário da prefeitura, quem atende o telefone não costuma perguntar se é de verdade ou não e os criminosos já se beneficiam com isso”, explicou.
Só de se apresentar como um funcionário de algum lugar específico e ter a vítima do outro lado da linha acreditando que está realmente falando com essa pessoa, já é meio caminho para cair no golpe. Mas não é só isso, os golpistas utilizam alguns truques importantes.
Mafumi explicou que o principal truque é acabar com a serenidade da vítima.
“Se estamos serenos e tranquilos, pensamos de forma racional, mas se estamos em uma situação de crise, tensão ou com o lado emocional abalado, tendemos a agir irracionalmente. Os bandidos criam situações de estresse em que a vítima perceberia que é um golpe se estivesse calma, mas a condição mental não permite enxergar o óbvio”, disse ele.
O objetivo do criminoso é fazer a vítima agir por instinto e de forma rápida, sem ter tempo para refletir sobre o que está fazendo. Se a pessoa do outro lado da linha diz que é da polícia e que houve um acidente, só esses termos como “polícia” e “acidente” são suficientes para tirar a serenidade de quem está ouvindo.
“E então o criminoso vem com uma proposta emergencial. Se não enviar dinheiro imediatamente, o filho ou o neto irá se dar mal. Uma situação crítica é apresentada e a vítima perde a capacidade de raciocinar diante da crise e apenas age. Se não enviar ¥3 milhões agora mesmo algo ruim vai acontecer e ao saber disso, a pessoa corre para mandar o dinheiro, ela não pensa”.
E isto pode fazer com que até os mais espertos acabem enganados. Embora muitas vezes os golpistas foquem em idosos, há os casos pela internet, como golpes românticos em que o criminoso conquista a vítima primeiro e depois pede dinheiro para uma suposta emergência.
E na maioria dos casos, só depois de pagar é que a pessoa se acalma o suficiente para avaliar a conversa, a situação e então percebe sozinha que acabou caindo em um golpe.
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Como se proteger de golpes
O professor Mafumi explica que tentar pensar com calma não é suficiente. É preciso considerar toda a situação de estresse em torno da vítima e o fato de que muitas vezes a história é convincente o suficiente para que a pessoa não desconfie antes de mandar o dinheiro.
“Tente se acalmar e não envie dinheiro para pessoas suspeitas! É um conselho bom, mas ineficiente para evitar um golpe”, explicou. “Pode ser que você não ache a pessoa do outro lado da linha suspeita, então tenha outro gatilho neste caso. Desconfie sempre que a conversa for sobre mandar dinheiro, independente de quem você está conversando”, aconselhou.
Se a pessoa que abordou terminar pedindo dinheiro, desconfie ainda que seja convincente e pareça real. Por via das dúvidas, é melhor hesitar e consultar uma terceira pessoa sobre o caso antes de tomar uma decisão.
“Para proteger as finanças e as economias que podem ser de anos, é importante construir um ambiente familiar e na vizinhança que ajude neste caso. Ter alguém para consultar em uma situação em uma situação dessas e entender o que está acontecendo de fato antes de mandar dinheiro a alguém”, disse.