Para os estudantes de baixa renda, uma bolsa de estudos é fundamental para garantir a oportunidade de se formar em um curso superior.
No Japão, os critérios de desempenho escolar e renda para a obtenção de bolsas sem a necessidade de devolução são rigorosos e muitos estudantes sem condições financeiras acabam usufruindo de bolsas que precisam ser devolvidas no futuro.
Sendo assim, não é incomum que estes jovens iniciem a vida adulta de trabalho já com dívidas. No entanto, nem todo mundo se sai bem na busca por empregos ou no dia a dia do trabalho e independentemente da renda, sucesso profissional ou fracasso, fica a obrigatoriedade de devolver a quantia investida nos estudos.
Uma reportagem do portal japonês Career Connection mostrou como muitos ex-bolsistas japoneses estão enfrentando dificuldades e até mesmo quem desistiu da faculdade precisa arcar com a dívida.
Shou* é um jovem na faixa de 20 anos que reside na província de Osaka. Depois de pegar emprestado uma bolsa de estudos no valor de ¥4,2 milhões e com obrigatoriedade de devolução, ele se deparou com circunstâncias que o fizeram abandonar os estudos.
Apesar de não ter concluido o curso superior, ele conseguiu ser efetivado em uma empresa. No entanto, sofreu bullying de colegas e por causa das consequências psicológicas, foi obrigado a deixar o trabalho.
Hoje, cuida de um negócio próprio que rende cerca de ¥1,2 milhão por ano, mas ainda assim precisa pagar a dívida de ¥4,2 milhões. Por causa das dificuldades, ele se inscreveu em um sistema que permite ampliar o prazo para a devolução do dinheiro.
“Antes da crise do coronavírus, eu conseguia pagar cerca de ¥10 mil por mês. No entanto, agora não tenho mais condições de pagar e nem de morar sozinho, sofri bullying na sociedade e perdi a vontade de trabalhar. Isto se tornou um inferno”, desabafou para a reportagem.
Contas apertadas
Para muitos jovens que estão trabalhando, mesmo que com uma renda adequada, o peso de devolver a bolsa de estudos os obriga a ter uma vida de aperto financeiro.
Ayako* é uma jovem na faixa de 20 anos, que mora e trabalha na província de Miyagi. Nos tempos de estudante, ela conseguiu uma bolsa de ¥1,3 milhão e hoje devolve cerca de ¥13 mil por mês.
Com uma renda anual de ¥2 milhões que ganha com um trabalho em uma empresa de distruibuição de mercadorias, Ayako conta que sobra pouco dinheiro para despesas importantes.
“O valor da bolsa se soma aos custos do dia-a-dia, seguro de saúde, aposentadoria e outras despesas obrigatórias. Sobra de ¥10 mil a ¥20 mil por mês para gastos como custo de transporte público, autocuidado ou tratamento médico”, diz.
Mesmo para quem conseguiu uma renda mais alta o peso da dívida cai sobre os ombros. Yumi*, tem menos de 30 anos e vive em Tóquio. Ela contou com o suporte de uma bolsa de estudos de ¥15 milhões para concluir a faculdade e teve sorte, conseguiu trabalho em uma empresa que paga cerca de ¥6 milhões por ano.
No entanto, como o valor da bolsa foi elevado, precisa pagar cerca de ¥60 mil por mês para quitar a dívida.
“Consigo bancar as despesas básicas e diárias, mas pago ¥720 mil por ano por causa da bolsa de estudos. As vezes eu me pergunto qual o sentido de ter conseguido um emprego que paga mais do que a média”, indaga.
Yasuhiro* tem 30 anos e também vive em Tóquio. Depois de terminar a faculdade, ele conseguiu um emprego com renda anual de ¥20 milhões e conseguiu pagar a dívida de ¥11 milhões da bolsa, mas alerta aos estudantes que façam cálculos e pensem bem antes de utilizar o benefício que irá custar caro mais tarde.
“Se for aceitar uma bolsa deste tipo, considere o nível da faculdade, a especialização do curso e a expectativa de renda no futuro. Eu comecei a vida como trabalhador negativado e uma perspectiva de quitar o valor em 10 anos. A bolsa é uma dívida com juros baixos e se houver consciência sobre o seu uso, sem dúvidas é uma grande ajuda para a vida do estudante “, diz.
*Nomes fictícios