Tóquio – As lojas de conveniência do Japão são estabelecimentos bastante democráticos, do interesse de qualquer tipo de cliente, jovem ou idoso, sozinho ou acompanhado.
O Japão é dominado por este tipo de loja em todas as províncias, principalmente das três principais redes: Lawson, FamilyMart e Seven Eleven. Juntas as três redes totalizam mais de 50 mil estabelecimentos no país e com o aumento do número de idosos e pessoas que vivem sozinhas, os “combinis“, como são chamados em japonês, se tornaram infraestruturas indispensáveis.
Mas nem todo mundo que vai fazer compras se comporta de forma adequada. No dia a dia das lojas, funcionários precisam lidar com todo o tipo de pessoa, desde o idoso solitário que quer conversar no caixa até o cliente agressivo que encontra motivos para gritar e criticar.
Há pessoas que aparecem inúmeras vezes nas mesmas lojas e cometem o mesmo tipo de ato incômodo, como quebrar biscoitos propositalmente, fingindo que foi sem querer.
Em entrevista ao Portal Bunshun Online, dois atendentes de combinis em Tóquio contaram sobre os tipos de clientes problemáticos. Eles também disseram que já foi preciso chamar a polícia uma série de vezes por causa de tumultos e incidentes com clientes sem educação.
Incidentes nos horários de pico
Um dos horários mais ocupados em muitas lojas de conveniência é entre 6h e 9h da manhã, devido ao fluxo de trabalhadores que vão comprar algo antes do horário de serviço. Como muitas pessoas estão com pressa e as filas começam a se formar e alguns clientes ficam irritados.
“Há muitas pessoas que estão indo trabalhar ou retornando do trabalho noturno. É normal que se irritem com a fila e gritem com a gente, mas já estou acostumada”, diz Maho Matsumoto (nome ficíticio), de 26 anos, que trabalha em uma loja da Seven Eleven em um bairro residencial de Tóquio.
Maho não se incomoda tanto com os trabalhadores irritados e grosseiros que precisa atender pela manhã. No entanto, diz que a presença de um idoso em especial, que vive na região, é um problema constante.
“Ele tem cerca de 70 anos e aparece todas as manhãs para comprar cigarro. Só que ele sempre diz algo misterioso e pede um “shibutani purasu 80″ que eu não fazia ideia do que era. E se você diz que não entende o que ele está falando, ele fica furioso”, contou.
Com o tempo, Maho acabou matando a charada do pedido misterioso do homem.
“O cigarro que ele fuma é o número 189. ‘Shibutani’ quer dizer ‘Shibuya’, que é simbolizado pelo número 109 por causa do nome da loja de departamento. Então ele diz ‘plus’ (mais) 80, e 109 mais 80 é 189, o número do cigarro dele”, explicou.
Maho conseguiu decifrar o código, mas os novos atendentes que se deparam com o idoso pela primeira vez acabam se metendo em confusão. “Ele grita, quer saber como a gente não entende e diz que não estamos nem tentando entendê-lo”, revelou.
Idosos que falam demais
Os idosos que aparecem mais interessados em conversar do que em fazer compras também perturbam os atendentes.
“Um deles é um senhorzinho que encontra produto vencido na prateleira e chama um atendente em um horário bem ruim. Ele fica perguntando se a gente pretendia vender coisa velha. Há uma checagem noturna e outra pela manhã e ele aparece antes da segunda checagem”, explicou.
E não é só isso. O cliente costuma pegar um monte de produtos e vai conversar no caixa.
“Nós nos desculpamos é claro e ele pega uma pilha de coisas e leva no caixa. Depois começa a puxar assunto sobre o plano do governo para prevenir o coronavírus e termina falando do histórico escolar impecável que o filho tinha e que a gente provavelmente não queria trabalhar em um lugar como uma loja, mas não tem jeito. Ainda nos faz de bobos”, contou.
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O cliente que quebra produtos na embalagem
Maho também precisa ficar de olho em outro idoso com um padrão de comportamento bastante específico: o homem gosta de quebrar biscoitos de propósito.
“Esse senhor derruba as embalagens no chão e acha que ninguém está vendo o que ele está fazendo. A gente chama atenção, ele se desculpa e diz que foi sem querer”.
A loja já chamou a família do idoso para arcar com o custo do produto danificado, ao perceber que ele fazia de propósito.
“A família aparece e o trata como uma pessoa problemática. É muito triste, a gente vê que os familiares não dão atenção a ele. Acho que ele não tem com quem conversar e então vem na loja quebrar biscoitos, fazer brincadeira de criança”, opinou.
O cliente que pede para acender o cigarro
A madrugada é o momento de menor movimento em uma loja de conveniência, mas nem por isso os funcionários estão desocupados. Como é preciso lavar utensílios de cozinha, inspecionar as revistas, organizar os produtos que chegaram e outros afazeres, também é um momento ocupado.
Junpei Takehara, de 35 anos e que atende em uma loja da FamilyMart em Tóquio, diz que este também é o período em que costumam aparecer clientes que causam problemas.
“Nossa loja fica em uma rua coberta perto de uma estação. Há muitas boates e cabarés por perto e clientes que arrumam confusão”, contou.
Em uma madrugada, um cliente na faixa de 30 anos que apareceu com uma mulher, com roupas de quem trabalha nos estabelecimentos da região, deixou Junpei assustado.
“Ele veio comprar cigarro, pagou e abriu o pacote na minha frente. Depois aproximou o queixo e me pediu para acender o cigarro dele. É óbvio que é proibido fumar dentro da loja, mas eu fiquei com medo e acabei acendendo o cigarro dele com o meu isqueiro”, revelou.
Outro cliente da madrugada costuma causar incômodos com frequência.
“Este também é um homem na faixa de 30 anos. Ele aparece, não compra nada e exige que a gente entregue hashis. Não entregamos utensílios para quem não compra é claro e então ele fica nervosa e chuta o balcão, grita com a gente. E isto se repete duas ou três vezes por mês”, disse.
O homem já é conhecido dos funcionários e quando entra na loja, deixa todos com medo.
“Por enquanto ele apenas chuta o balcão, mas nós sentimos o perigo. Cada vez que ele entra aumenta a tensão. Realmente não quero que ele apareça de novo”, desabafou.
Perguntado sobre os episódios em que foi preciso chamar a polícia, Junpei diz que já aconteceu duas vezes em seu plantão.
“Uma foi de um jovem que se trancou no banheiro e ficou se masturbando. Só descobrimos depois e chamamos a polícia. A outra vez foi por causa de um homem que se atravessou na frente de um grupo de 3 ou 4 pessoas, eles brigaram e deu uma confusão”, contou.