Tóquio – Pobreza, solidão, depressão, abandono ou transtornos mentais. É difícil compreender o motivo que leva tantas pessoas a viver uma vida solitária, em meio ao lixo e isoladas em apartamentos pequenos ou casas no Japão.
Essa situação de vida que não é rara no país fez surgir alguns serviços especiais. Há empresas que limpam as casas dos acumuladores de lixo e dão um destino para a montanha de lixo que se forma nos cômodos. E há também empresas especializadas na limpeza depois da morte, quando o morador é encontrado morto em meio ao lixo.
Uma reportagem do Portal Post Seven conversou com trabalhadores de empresas no ramo, que contaram que sempre reagem com espanto ao ver nos detalhes o estilo de vida dos que morreram nessas condições.
Segundo o representante da empresa de limpeza Cocoro Terrace, Kouji Kagawa, o serviço é acionado em uma série de situações e há um padrão comum nos casos de acumuladores de lixo.
“Há desde kitnets até casas próprias. No caso dos apartamentos alugados, muitas vezes nos deparamos com uma situação em que a pessoa não tinha nada. Havia lixo por todos os lados, mas não havia móveis e nem mesmo o mínimo de roupas que uma pessoa precisa”, comentou.
A situação de pobreza, que muitas vezes se relaciona com uma vida em meio ao lixo, acabou se agravando depois da pandemia. Muitos se isolam da sociedade, sofrem mortes solitárias e leva-se até meses para descobrir o corpo.
“Nós somos chamados para a limpeza depois que acaba os procedimentos com a polícia e o corpo é retirado. Mesmo quando se trata de um morador jovem a gente percebe que a alimentação era péssima, muitas embalagens de marmitas de lojas de conveniência e miojo”, revelou.
Os acumuladores de lixo e a solidão
A alimentação sugere a causa da morte em muitos casos, já que os óbitos costumam ser repentinos e não apenas de idosos, mas também de jovens e trabalhadores que viviam sozinhos nessas condições.
“Como a alimentação é muito ruim, eles vão acabando com a saúde aos poucos e sem perceber. Depois, sofrem um infarto ou AVC e morrem de repente”, explicou Kouji.
Tooru Kagawa, representante da empresa de limpeza Risk Benefit, contou que a situação de morte também é parecida na maioria dos casos.
“Cerca de 70% dessas pessoas morrem dentro do banheiro ou na porta. Como a alimentação é muito ruim, com o tempo acontece um enfraquecimento dos vasos sanguíneos e eles sofrem um choque térmico e morrem perto da banheira. A morte solitária parece ser comum apenas aos idosos, mas tem aumentado entre os jovens”, comentou.
E nem sempre há uma situação de pobreza. As empresas atendem também casos em que o morador era funcionário de alguma grande empresa, mas acabou morrendo sozinho. Quando a pessoa vive em isolamento, não é raro que demore até 2 meses para alguém descobrir.
“Há uma situação surpreendente. Mesmo depois de muito tempo é comum que as marmitas de lojas de conveniência ou macarrão instantâneo não estraguem. Mas muda a coloração a um ponto de você questionar se realmente é algo comestível. No caso dos que vivem sozinhos, é importante que a família peça fotos da cozinha para verificar a situação”, recomendou.
Se a cozinha estiver cheia de lixo, é um sinal de que a pessoa possa estar levando este estilo de vida prejudicial e perigoso. Principalmente para os jovens que vivem longe da família e possam estar nessa situação, o acompanhamento familiar é fundamental para evitar uma tragédia.