Se você ainda não assistiu ao filme, não se preocupe, não irá receber muitos spoilers aqui. Porém, te convido a entrar na discussão sobre qual é o significado de Tudo isso, principalmente, da nossa falta de percepção sobre a nossa vida e o que está presente nela. Apesar de, em diversos momentos, ficar escancarado a influência de Rick and Morty, de Matrix e Kill Bill, o filme vai muito além disso.
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Existe a questão filosófica sobre a vida de Evelyn (Michelle Yeoh), Wanmond (Ke Huy Quan)e Joy (Stephanie Hsu), e do papel que cada um tem na trama, como se eles fossem as forças que movem todo o universo. Acredito que uma grande mensagem, relacionada ao gnosticismo, explicaria muito melhor essas loucuras da tela e como elas fazem muito sentido, mesmo parecendo tão desconexas.
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Um grande Yin Yang inserido em Tudo
Analisando com essa visão pelo conhecimento gnóstico (que, de maneira simplista, é uma visão sincrética de todo o conhecimento humano atrás das civilizações e mitologias), o problema está na falta de conexão entre o que ocorre dentro com o que está ocorrendo fora. Como Evelyn se sente no centro do universo, não importa o que esteja ocorrendo fora, ela simplesmente os ignora. Digo até mais, ela inclusive ignora que ignora o que está acontecendo.
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Vemos como ela misturou Tudo a sua volta para coincidir em uma única questão: ela está esperando que as coisas passem e ela não precise fazer nada. Basta seguir em frente, empurrar com a barriga, não olhar para trás. Ao mesmo tempo, ela se culpa por Tudo o que fez de “errado” em sua vida e de onde isso a levou. Por isso, ela vive no amanhã, achando que o passado pode ser consertado depois. O que a torna uma vítima das consequências, fugindo do agora, que é o único momento onde ela pode fazer algo por si mesma e por sua família.
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A confusão em Todo lugar
O filme ser falado em dois idiomas ao mesmo tempo reflete um outro ponto da ignorância humana sobre a sua situação. Vivendo em um país diferente, ela precisa se comunicar no idioma local, já que seus clientes são falantes nesse idioma e, ao mesmo tempo, ela precisa dizer o que realmente sente em seu idioma nativo. Parece confuso, mas não é. Usando a mesma analogia gnóstica, existe um mundo interno, onde somos nós mesmos e um mundo exterior, onde se comunicamos de uma maneira que sejamos aceitos pela sociedade.
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O filme recria assim, um teatro de máscaras grego do século 21, onde cada hora vemos uma emoção, um personagem que usa de uma máscara para se expressar. À medida que o filme leva Evelyn para longe de seu ponto de conforto, para longe de sua lavanderia, ela se vê obrigada a se adaptar, a falar a língua que lhe é cobrada. Por isso, ora ela conversa e ora ela luta, já que essa é a forma de resolver os problemas que surgem à sua volta.
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Essa questão é importante, uma vez que vai te ajudar a decifrar o que está acontecendo no filme. O multiverso, muito bem executado na produção, mostra outro ponto incrível: a interação com o mundo interior. A maior lição do gnosticismo, mostra que o homem é capaz de se desenvolver infinitamente, retirando todas as potencialidades de dentro de si mesmo, ao se conectar com seu Ser Interior. Evelyn, assim como Neo em Matrix, não são os escolhidos, mas aqueles que escolheram lutar contra todas as suas falhas e atingir esse potencial, Ao mesmo tempo.
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