Tóquio – Um casal de idosos que vive em Tóquio foi preso pela polícia metropolitana por compactuar em um crime de falsidade ideológica. Chizuru Yoshino, de 72 anos e o marido, Sachihiko, de 65 anos, registraram uma irmã fictícia de Chizuru, como se ela existisse de verdade.
Não foi um processo simples. As prefeituras do Japão guardam o “koseki”, que é o registro de família de cada cidadão japonês. Porém, há pessoas que não foram registradas quando crianças por motivos adversos e acabaram crescendo sem ter nenhum direito público, como se não existissem.
Para registrar uma pessoa que se tornou adulta sem esse registro, é preciso entrar com um processo na justiça e apresentar todos os documentos exigidos para a comprovação da situação do indivíduo. Chizuru e o marido entraram com esse processo e apresentaram documentos falsos para as autoridades.
Eles conseguiram encaminhar o processo da suposta irmã, chamada de Jua Iwata e de 48 anos. A irmã era a própria Chizuru e o documento mostrava o nome e a idade falsa, mas a foto era da idosa.
Segundo uma reportagem do portal Sponichi Annex, a polícia de Tóquio descobriu a fraude quando Chizuru passou pelo processo para tirar habilitação para pilotar uma mini moto. Os policiais suspeitaram ao analisar o documento: a mulher não era compatível com a idade apresentada.
O caso passou a ser investigado pela polícia e quando as autoridades descobriram que o processo de registro de Jua Iwata foi feito com documentos falsificados, a prisão do casal foi efetuada.
Mesmo com a farsa descoberta, Chizuru não admitiu o crime de falsidade ideológica. Ela alegou que era a própria Jua Iwata e que não sabia de sua irmã mais velha (Chizuru), pois as duas tinham brigado e desde então, perderam o contato.
O marido, por outro lado, disse aos policiais que eles realmente falsificaram os documentos para registrar Jua e que a esposa só queria parecer mais jovem.
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O motivo da falsidade ideológica
O caso é raro e o casal passou por um processo bastante burocrático para registrar legalmente uma pessoa que não existe. No programa “Go Go Smile”, da Emissora TBS, o ex-detetive da Polícia de Osaka e jornalista criminal, Masazumi Nakajima, discutiu o assunto e disse que a história de querer parecer mais jovem provavelmente é uma desculpa.
Com um documento que diz que a pessoa é 24 anos mais jovem, ela poderia obter várias vantagens para si própria. Além de tirar carteira de habilitação e renovar de forma mais tranquila, também se torna mais fácil arrumar um emprego, uma vez que há limite de idade para muitas vagas no mercado.
“Falando como alguém que já trabalhou na polícia, é bem difícil acreditar que ela só queria parecer mais jovem”, disse Nakajima. “Ela poderia usar essa identidade falsa para cometer crimes e no Japão, qualquer coisa que você fizer precisa mostrar seu documento. É provável que ela queria fazer coisas que não dava com sua identidade verdadeira”, comentou.
A falsidade ideológica também é perigosa. Com um documento que diz ser muito mais jovem em mãos, ela poderia dirigir por muito tempo e ter funções incompatíveis com a idade. E poderia colocar a si própria e outras pessoas em risco.