Tóquio – As crianças de hoje estão nascendo em um mundo informatizado e os pais não costumam demorar para introduzir a tecnologia e as telas na vida dos filhos. O smartphone pode ser uma boa distração para que os pais consigam realizar outras tarefas, mas também causa um prejuízo alto.
Quem diz isto é médica da Clínica de Pediatria Kanehara, localizada na cidade de Shimonoseki (Yamaguchi), Momoko Oka. Sem que os pais perceberam, os filhos podem se tornar dependentes dos aparelhos e sofrer problemas de saúde e desenvolvimento.
“Um dos primeiros efeitos negativos é o prejuízo para a visão. O uso prolongado de smartphone também afeta a capacidade de aprendizado, o desenvolvimento do cérebro da criança e também pode causar depressão”, alertou para a Emissora Fuji.
De acordo com os dados do Instituto de Pesquisa da Sociedade Mobile (Mobairu Shakai Kenkyujo), no Japão, é comum que crianças na faixa etária de 10 anos ganhem o primeiro smartphone. O levantamento mais recente mostra que 40% das crianças que ainda estão no primário possuem celular e no ginásio, é mais de 80%.
Outra pesquisa indicou que, em mais de 90% dos casos, crianças entre 10 e 15 anos com aparelho celular acabam desenvolvendo dependência. “Quando me dou conta, estou mergulhada na tela e esqueço o tempo com frequência”, disse uma menina que participou do estudo.
A médica Momoko Oka explica que a dependência costuma ser mais severa nas crianças do que nos adultos.
“Os adultos, quando querem olhar o celular, conseguem frear essa vontade por ter outros compromissos ou tarefas pendentes. Mas as crianças ainda não têm esse freio, o cérebro delas é imaturo e está em fase de desenvolvimento. Elas não conseguem simplesmente parar por conta própria e por isso acabam dependentes”, explicou.
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A luta contra o smartphone
Os especialistas entendem que é importante aumentar a conscientização das famílias e atrair as crianças para outras atividades mais lúdicas, que não envolvam o uso de telas. E para atingir esse objetivo, há movimentos que visam salvar os pequenos dos efeitos negativos e da dependência dos aparelhos móveis.
Um desses movimentos foi criado pela pediatra Mikayo Ishimoto, através do livro Sumaho-kun, que fala sobre o smartphone de forma lúdica e gera consciência nos pais e nos filhos com histórias ilustradas.
“Se as crianças ficam caladas mexendo no celular, não há interação física, o vocabulário não se expande, não se constrói relações sociais. A proposta do livro é sugerir que, em vez de desperdiçar o tempo, por que não aproveitá-lo fazendo algo mais divertido?”, diz Mikayo.
A personagem principal da história conviveu com os celulares desde que era pequena, como algo natural do cotidiano. E então, transmite isto para a filha, que acaba dependente e precisa consertar sua rotina.
“O tempo passa e quando você se dá conta, se surpreende. Já passou da meia-noite e as tarefas da escola ainda não foram feitas. É esse o tipo de situação que o livro ilustra”, explicou.
O livro foi levado para um encontro de mães e filhos, onde o grupo pôde ler junto, tirar suas conclusões e discutir o tema. Neste encontro, uma mãe comentou.
“Tinha vezes que o meu filho mexia no celular enquanto eu estava dando mamá para ele. Isto fez eu pensar na importância do contato, olhar nos olhos da criança”.
Outra mãe também expressou seus sentimentos:
“As crianças observam os pais que vivem com o celular em mãos e imitam. Eu pensei que preciso começar por mim mesma, a usar menos o telefone e as redes”, disse.