Nagoya – Enfrentar uma gravidez na adolescência e criar o filho sozinha não é fácil em nenhum lugar do mundo, mas no Japão, os desafios podem ser enormes.
Momoka Yokoi tinha 14 anos e estava no terceiro ano de uma escola ginasial na província de Aichi quando engravidou. Na época, tinha um namorado da mesma idade que apoiou, disse que ela poderia ter o bebê e eles criariam juntos.
Porém, um ano depois do nascimento de Kouki, Momoka recebeu uma mensagem direta pelo aplicativo LINE: o rapaz disse que fugiria e bloqueou o contato.
Diferente do Brasil que considera crime quando não há o pagamento de pensão alimentícia, o Japão não possui leis tão rigorosas e é comum que muitas mães solteiras acabem criando os filhos sozinhas, sem nenhuma ajuda do pai da criança.
Foi o que aconteceu com Momoka. Ela recebeu uma equipe de reportagem da CBC News e contou, ao lado do filho, o que passou e ainda passa desde a gravidez. O fato de ser muito jovem, o preconceito social e as dificuldades para trabalhar e ter uma condição financeira adequada.
A luta para criar o filho sozinha
Na sala com a equipe de reportagem, Momoka chama atenção por parecer a irmã mais velha do próprio filho, por causa da pouca diferença de idade. O menino se mostrou curioso com as câmeras e agitado, mas a mãe logo pediu para que se comportasse.
Kouki acabou de ingressar na escola de ensino primário e ela perguntou ao filho se estava animado para essa nova fase, ele disse que sim, sorrindo. Mesmo a foto comemorativa teve que ser improvisada e as roupas, materiais e acessórios foram obtidos com doações de amigos.
“Eu cuido muito para que ele se alimente bem e prefiro aguentar a fome. A gente recebe roupas velhas de amigos e nos viramos como podemos”, comentou.
Atualmente, Momoka trabalha meio período em um SPA gerenciado pelo irmão mais velho. Ela ganha um salário de ¥80 mil por mês e recebe mais ¥40 mil como ajuda para mães solteiras e ¥10 mil como ajuda para a criação dos filhos, ambos benefícios concedidos pelo governo.
E com ¥130 mil mensais precisa pagar as contas, sustentar o filho e enfrentar os desafios diários.
“O pior sempre é o dinheiro, porque nunca é suficiente e não tenho nada guardado. Todos os dias e mesmo agora eu penso muito: o que eu farei? Temos vivido assim”.
Leia também: O caso do estudante que cometeu suicídio em Osaka depois de ser pego colando na prova: família pede ¥100 milhões de indenização
O preconceito como mãe solteira
Quando descobriu a gravidez, Momoka se formou na escola ginasial e teve que contar aos professores. As reações não foram nada amigáveis e ela foi instruída a esconder a barriga, não deixar que os colegas saibam e ir para a casa o quanto antes.
“Eu tinha que esconder e ficava me perguntando se ele era uma vida que precisava ser escondida e ocultada aos olhos dos outros. A forma como me olhavam, o preconceito, eu fui tratada de maneira muito severa”, relembrou.
Sem poder estudar, a japonesa logo iniciou uma busca por uma vaga de emprego que a permitisse sustentar o filho. Passou por muitas entrevistas e conseguiu uma contratação, mas não durou muito tempo na empresa.
“Eu era tratada com preconceito pelo fato de ter um filho e ser jovem. Faziam bullying comigo e me davam horas de trabalho incompatíveis com a minha realidade. Eu tive que sair e acabei sem emprego”.
Foi nessa época que o irmão conseguiu ajudar com a vaga no SPA. Não houve nenhum comentário sobre os pais de Momoka, como reagiram e se deram ou não algum apoio para a filha.
Apesar das dificuldades, a jovem mãe abriu um sorriso quando foi questionada sobre como é viver com o filho.
“Se o Kouki não estivesse aqui, eu não conseguiria viver sozinha. Ele é um grande tesouro na minha vida”.
Os repórteres também perguntaram ao menino o quanto ele gostava da mãe. Kouki sorriu e abriu as mãozinhas: muito, muito, muito.