Tóquio – Mako Nishimura é uma mulher japonesa de 57 anos que carrega uma história atrelada à Yakuza, a principal organização mafiosa do Japão e que é conhecida no mundo todo.
Normalmente os integrantes da Yakuza são homens que podem ser identificados por suas tatuagens expressivas e em muitos casos, a falta do dedo mindinho. Quando um membro comete uma falha ou ofensa, ele é submetido ao ritual e corta o próprio dedo como pedido de desculpas e por demonstração de arrependimento antesde deixar a organização. Uma tradição antiga da Yakuza que também faz parte da história de Mako.
A japonesa contou detalhes de sua história dentro da máfia em seu primeiro livro: “Mulher Yakuza – O terror dos Mafiosos e a Biografia de uma Filha do Demônio”, em tradução livre (Veja o original aqui). A obra foi publicada pela Editora Seidansha. Uma reportagem do Portal Bunshun Online extraiu alguns trechos do livro para contar detalhes curiosos e impressionantes da história de Mako.
Hoje ela está afastada do grupo e iniciou um recomeço de vida depois de anos envolvida em crimes, prisões e missões cruéis dentro do clã.
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A entrada na Yakuza
Eu nasci na Era Showa e na infância e adolescência, não podia imaginar nem em meus piores sonhos que um dia faria parte da Yakuza. Nesta época, a nossa diversão era ir ao cinema e não tinham os serviços de streamings que tem hoje. Para ver um filme, tinha que ser nas grandes telas e os cartazes e pôsteres davam muita expectativa. Eu me lembro desta época de ver muitos filmes de ação da máfia, com grandes atores como o Ken Takakura e Bunta Sugawara.
Na adolescência, fui muito influenciada por amigos delinquentes e no segundo ano do ensino médio, fui embora de casa. Escapei da rigorosidade do meu pai, que era um funcionário público muito sério e antiquado. Depois disso, passei meus dias brigando com amigos homens e como um animal selvagem na natureza. Uma vida tumultuada durante longos anos, até eu completar 50 anos.
Eu nunca quis me tornar yakuza, ou pelo menos nunca pensei nisto, mas a força do destino é assustadora. Quando fui me dar conta do que estava acontecendo, eu recebi a taça de Ryoichi Sugino, o chefe do território de Gifu e me tornei um dos jovens membros de seu clã.
Há mulheres que tiveram algum papel histórico na Yakuza, como Gin Shimamura de Kitakyushu, no filme “Hana to Ryu”, que foi baseado em fatos reais ou a viúva de Kazuo Taoka, Fumiko Taoka, que teve papel relevante na terceira geração do clã Yamaguchi.
Mas eu não era como elas. Eu jurei lealdade ao chefe como um pai dentro da organização e trabalhei duro e em pé de igualdade com os outros membros homens. Eu tinha minhas próprias responsabilidades e tarefas lucrativas. Por conta disso, a polícia tomou conta de mim por muitas vezes, passei por prisões e fui solta. Para minha vergonha, passei até pelo ritual de “cortar um dedo”, por conta de falhas na minha atuação.
A venda de uma garota
Como jovem membro da Yakuza, meu primeiro grande trabalho foi “afundar” uma garota que tinha uma grande dívida comigo em uma casa de prostituição. Isto aconteceu em Shima, na província de Mie. O nome da garota era Reiko e eu a conhecia desde antes de entrar para a máfia, ela trabalhava no clube de encontros Candies, que eu administrava.
Eu a vendi na Ilha de Watakano, que é uma conhecida ilha de prostituição em Mie. Na época, fui apresentada para Higashi, um membro do clã com idade em torno de 50 anos e que controlava os negócios ilegais na ilha. Ele era intimidador e conhecia bem a gerência das casas. Ele arranjou para mim um lugar onde seria possível receber o valor mais alto e um bom adiantamento pelo negócio.
Para chegar na ilha, é preciso atravessar em um barco caindo aos pedaços. Eu levei a Reiko neste barco e quando chegamos, fomos direto para o estabelecimento que ficaria com ela. Eu negociei diretamente com a proprietária do local e recebi ¥3,5 milhões em dinheiro vivo. Enfiei o dinheiro na bolsa, encorajei Reiko a seguir em frente e fui embora dali, sem saber o que aconteceu com ela depois.
Este foi o começo de uma longa jornada pela máfia que levou ao envolvimento em conspirações criminosas, pagamento de dívidas, perseguições policiais e muito riscos até decidir seguir por um novo caminho depois dos 50 anos.