Tóquio – As Testemunhas de Jeová arrumaram uma verdadeira confusão com o governo japonês por causa de uma das proibições da doutrina religiosa. Os fiéis costumam recusar transfusão de sangue mesmo diante de qualquer circunstância, o que inclui casos graves como de bebês que nasceram prematuros.
O Ministério da Saúde do Japão classificou a orientação religiosa como “abuso e maus-tratos” em dezembro do ano passado e passou diretrizes aos líderes, mas mesmo depois disso, os fiéis continuaram sendo instruídos a recusar o procedimento médico.
Segundo uma reportagem da Emissora Fuji, em agosto deste ano, a sede das Testemunhas de Jeová emitiu um documento para as gestantes orientando que recusem transfusão de sangue em bebês caso seja sugerido pelos médicos e peçam outros tratamentos.
No caso de bebês que nasceram prematuros, os pais devem pedir que os médicos façam qualquer tratamento que não inclua transfusão de sangue e mesmo no caso de icterícia grave, os pais devem solicitar que o bebê receba tratamentos alternativos.
Em um novo documento emitido após a polêmica com o Ministério da Saúde se intensificar, os religiosos passaram outra instrução para os fiéis. Desta vez, as famílias devem “pensar por si mesmas” e tomar a decisão que acharem mais correta no caso de precisar de uma transfusão de sangue.
O filho de um casal Testemunha de Jeová contou para a emissora Fuji que precisou de uma transfusão de sangue quando criança, mas os pais negaram o tratamento. Ele deu uma opinião sobre o documento da organização que diz para que as famílias pensam por si mesmas.
“Sinceramente, não acredito que os fiéis vão aceitar transfusão de sangue porque o documento diz que pensem por si mesmos. Tem muitas crianças que estão sofrendo porque precisam desse tratamento e os pais continuam negando. Eu só quero que a religião melhore, esse é o meu maior desejo”, comentou.
Leia também: Prefeitura no Japão mata ursa e filhotes encontrados em um galpão e que não feriram ninguém: caso gerou revolta
Os motivos das Testemunhas de Jeová
De acordo com as informações do site JW.ORG, oficial das Testemunhas de Jeová, a religião rejeita as transfusões de sangue por causa de passagens bíblicas que sugerem abstenção de sangue e pela leitura de Levítico, de que “o sangue representa a vida para Deus”.
Os fiéis explicam no site: “nós evitamos tomar sangue por qualquer via não só em obediência a Deus, mas também por respeito a ele como Dador da vida.”
Não é a primeira vez que as Testemunhas de Jeová enfrentam polêmica no Japão. No início deste ano, alguns advogados que são filhos de religiosos se uniram em uma ação para parar com o que consideram como “abusos aos direitos humanos” por parte da religião.
Os advogados informaram, em uma entrevista, que coletaram informações de mais de 70 pessoas que nasceram em famílias de fiéis e sofreram agressões físicas de seus pais, algo que seria permitido como forma de disciplina.
Os próprios advogados contam histórias pessoais tristes por causa da rigidez de suas famílias. Takeshi Komatsu, um dos envolvidos no processo, contou que teve uma infância difícil por causa das regras religiosas e chegou a sofrer castigos físicos diversas vezes.
Depois de adulto, decidiu largar a doutrina e por causa disso, foi obrigado a cortar o contato com os pais.
“Eu não posso visitá-los e nesses 20 anos, recebi algumas cartas pedindo que eu voltasse. Mas voltar para eles significa voltar para a religião. Eu já fui atrás dos meus pais e argumentei, disse que agora eles têm um neto e perguntei se a gente poderia se encontrar como família e eles disseram que não enquanto eu não voltar ao hábito religioso.”