Tóquio – Uma reforma de lei em andamento no Japão deve complicar ainda mais a situação de estrangeiros que estão em busca de um reconhecimento como refugiado no país.
A emenda à Lei de Imigração obteve aprovação esta semana na sessão plenária da Câmara Baixa e agora será encaminhada para a Câmara Alta para deliberação. Se entrar em vigor, os estrangeiros que já tiveram o pedido de visto de refugiado negado duas vezes poderão ser deportados a partir da terceira solicitação.
Entidades de apoio e os solicitantes do visto de refugiado se uniram para protestar contra a reforma. Uma reportagem da Emissora Fuji conversou com Henry, um camaronês que vive no Japão há 11 anos, tem esposa e duas filhas nascidas no país e já teve duas solicitações de visto negadas.
Camarões é um país que teve o território dividido entre França e Reino Unido e tem tanto o francês quanto o inglês como línguas oficiais. A parte anglófona do país sofreu uma forte repressão e Henry contou que fazia parte de uma organização política que lutava por independência, mas acabou preso por diversas vezes durante suas atividades.
Ele migrou ao Japão nesta época em que estava se sentindo em perigo no seu próprio país, mas não recebeu uma boa acolhida no país oriental e mesmo depois de 11 anos de residência, não foi possível regularizar a vida em terras nipônicas.
A esposa também é de Camarões e a família vive em um apartamento pequeno em Tóquio e se sustenta com a ajuda de entidades de apoio. Além de ter o visto negado duas vezes, Henry não pode trabalhar, não tem seguro de saúde e não pode sequer levar as filhas ao hospital quando ficam doentes.
“Os agentes da Imigração são terríveis. Eles pedem mais documentos e evidências e mesmo que eu entregue, não levam com seriedade. Eu tenho cicatrizes de ter sofrido tortura e isso não vale nada. Eles são preconceituosos e não há justiça para os refugiados africanos. Eu acho que eles não respeitam os direitos humanos”, desabafou.
Leia também: A ladra de ursinhos: o mistério da mulher que fugiu de loja de brinquedos no Japão com 10 pelúcias nos braços.
Meninas nascidas no Japão
As filhas nasceram no país, mas não tem passaporte e nem seguro de saúde. Reprodução / FNN.
Criar as filhas no Japão nestas condições tem sido desafiador para Henry e a esposa e o futuro é cada vez mais incerto. As possibilidades de deportação com a reforma de lei jogou uma sombra nas esperanças de conseguir o visto aprovado.
“Minhas filhas nasceram no Japão, mas elas não tem passaporte e nem seguro de saúde. A mais nova tem uma doença que não podemos tratar, pois não é possível levá-la ao hospital e contamos apenas com a ajuda de ONGs para remédios. Nosso apartamento é muito pequeno e não sei o que será de nós quando elas crescerem, não consigo visualizar o nosso futuro”, lamentou.
A luta de Henry se transformou em algo maior com o tempo. Além do visto, ele quer mostrar ao povo japonês como a Imigração trata os refugiados e tentar alguma mobilização social por direitos humanos.
“Eu vou lutar por justiça e quero que os japoneses saibam o que acontece na Imigração”, diz.