Tóquio – A difusão de aplicativos de encontros como o Tinder e outros, mudaram as configurações de relacionamentos pelo mundo. Antes, os encontros aconteciam mais na vida offline, entre pessoas que trabalham na mesma empresa, estudam juntas ou têm amigos em comum.
Nos tempos atuais, é mais fácil conhecer alguém pela internet e esses aplicativos fazem a ponte entre pessoas com interesses parecidos e que se atraem entre si. Uma pesquisa da empresa de seguros de vida Meiji Yasuda mostrou que os aplicativos são uma das formas mais comuns de conhecer um par romântico no Japão.
Entre os casamentos registrados no ano passado, 22,6% dos casais se conheceram em aplicativos. O número superou os encontros no ambiente de trabalho (20,8%) e os encontros em locais de estudo, escolas ou universidades.
Por um lado é prático, por outro, perigoso. Sem saber realmente quem é a pessoa conhecida pelo aplicativo e sem amigos em comum, não é difícil cair em uma armadilha e é o que vem acontecendo com muitas mulheres no Japão.
Uma reportagem do Jornal Yomiuri trouxe o caso de Midori*, uma japonesa de 35 anos que em 2019, viu uma amiga se casar com um homem que conheceu em um aplicativo de namoro e decidiu se inscrever na mesma plataforma.
Porém, Midori não teve a mesma sorte da amiga. Cerca de 6 meses depois, ela começou a conversar com um homem que era dois anos mais velho. Gostou das fotos dele, marcou que estava interessada e deu um “match”: um curtiu o outro e assim começaram a conversar.
“A gente trocou mensagens por 4 meses até nos encontrarmos. Ele trabalhava com fotos, era um homem calmo e a gente tinha interesses em comum de trabalho e hobbies. Passamos a nos encontrar uma vez por semana e de repente estávamos namorando”, relatou.
Ela chegou a perguntar se ele tinha uma namorada e o homem negou. Nas redes sociais, não tinha nenhuma declaração de compromisso ou fotos com outra pessoa. “Não parecia que ele tinha namorada ou esposa. A gente não podia se ver durante vários dias porque ele estava ocupado com o trabalho, mas não achei isso estranho”, disse.
Depois de dois anos de namoro, no fim do ano passado, Midori ficou grávida. O namorado tinha dito que não queria filhos e não pretendia se casar com ela.
“Acabou que eu ia ter o bebê na condição de solteira, mas ele se comprometeu em reconhecer o filho e em ajudar com os custos. Só que eu precisava do registro dele da prefeitura para registrar a criança e quando pedi, ele rebelou. Foi aí que eu soube que o homem era casado e já tinha filhos”.
Midori ficou em choque. Era muito diferente ter um filho de um homem solteiro e ter um filho de um homem casado que já tinha seus próprios filhos e a esposa em casa.
“Sinceramente, eu fiquei abalada demais e preocupada, pensei em morrer. Reuni forças por causa do meu bebê crescendo na minha barriga e muitas amigas que me ajudaram. Acabei processando e pedindo um indenização na justiça e a mediação do reconhecimento da criança”, contou.
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Má fé nos aplicativos
O caso de Midori pode ter sido mais raro ou delicado por envolver uma gravidez, mas de acordo com a reportagem, não é um caso isolado. Os aplicativos de encontros estão sendo utilizados por cada vez mais pessoas e entre aqueles que realmente querem conhecer alguém para um relacionamento sério, há muitos comprometidos em busca de diversão e novidade.
O Instituto de Pesquisa e Consultoria Mitsubishi UFJ fez uma pesquisa em 2021 com 500 usuários de aplicativos de namoro. Em condição anônima, eles responderam se já tinham fingido ser solteiros para conhecer gente nova nas plataformas e 9,5% responderam que sim.
A advogada Keiko Ota, especialista em casos tribunais que envolvem relacionamentos amorosos, deu algumas instruções para quem está preocupado em acabar caindo em uma mentira ao conhecer alguém em aplicativos.
“Se ele não quiser que você visite a casa dele ou saiba o endereço, preste atenção. É bom insistir para saber o motivo e avaliar se pode mesmo confiar nessa pessoa”, sugeriu.
Alguns aplicativos também passaram a pedir um comprovante de solteiro para o cadastro e conversar apenas com aqueles que apresentaram o documento é uma forma de evitar o golpe.
“Se acabar se envolvendo amorosamente com um homem que fingiu ser solteiro, é possível processar e pedir uma indenização. Porém, se continuar saindo com ele mesmo depois de descobrir que tem uma esposa, quem pode processar e pedir indenização é a esposa”, alertou.
Isto também vale para os casos contrários, mulheres casadas fingindo ser solteiras em aplicativos de namoro, embora sejam menos comuns.
*O nome é fictício, o nome verdadeiro da entrevistada não foi revelado