Hamamatsu – Em uma escola primária na cidade de Hamamatsu (Shizuoka), as crianças do 4° ao 6° ano foram surpreendidas em outubro do ano passado com a notícia de que deveriam cuidar de dez peixes.
As crianças da Escola Hirayama, em Mikkabi, foram encorajadas a cuidar com carinho dos peixes, que eram de uma espécie de linguado (hirame em japonês).
Cada um tinha cerca de 7 centímetros e as crianças deveriam acompanhar o crescimento, o consumo de ração e dar nomes aos “pets”.
O experimento foi conduzido pela Organização Cultural do Japão (JCO) e o objetivo passava longe de ensinar a cuidar de bichinhos de estimação. A ideia era gerar consciência sobre o cultivo em tanques, como uma prática benéfica para coibir os abusos da pesca.
“Depois que os peixes foram entregues, as crianças se tornaram mães e pais dos linguados”, comentou Koichi Saito, representante da JCO.
Com o passar do tempo, os instrutores falaram sobre a importância de proteger os recursos marítimos, os problemas relacionados a pesca desenfreada e outras questões sobre os oceanos.
Enquanto isto, os peixes foram ganhando nomes como “Michel” e “Johnny” e as crianças foram observando o comportamento das pequenas criaturas.
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Apego aos peixes e aprendizado
Os pequenos foram aprendendo várias coisas ao longo do tempo, como os limites no fornecimento de ração e que dar comida demais aos peixes acaba por sujar a água. Os instrutores ensinaram o funcionamento do tanque como um “pequeno mar” e como a limpeza deve ser feita.
Aos poucos, os peixes foram se acostumando com as crianças e começaram a se apresentar novos comportamentos.
“Foi muito bonitinho quando um dos peixes subiu na superfície”, disse uma menina.
“Quero cuidar muito bem para que eles não se machuquem e não fiquem doentes”, comentou um garoto.
Depois de um mês, todos os peixes já tinham nomes e algumas crianças comentavam que eles eram como amigos. Os alunos também começaram a escrever diários, relatando sobre os que não estavam se alimentando bem e sobre o crescimento.
Em junho, alguns peixes já estavam com 22 centímetros. E então o professor informou as crianças:
“Em duas semanas vamos discutir o que fazer com eles. Está chegando o dia em que precisamos tomar uma decisão sobre comê-los”.
Dia da decisão
Depois de oito meses de criação, iniciou-se um debate na sala de aula sobre o destino dos peixes. Os instrutores queriam que as crianças optassem por comê-los.
“Vamos iniciar um debate para saber quem é contra e quem é a favor de comer os peixes. Primeiro quero saber quem é a favor de comer”.
Uma menina comentou que queria devolver os peixes para o mar. Na votação, 8 crianças foram a favor de comer e 7 crianças foram contra. A turma se dividiu.
Os alunos que foram contra falaram que cuidaram dos peixes com muito carinho e não queriam comê-los agora. Alguns queriam devolver ao mar.
Entre as crianças que concordaram, uma disse que não achava que os peixes iriam se adaptar ao mar, pois foram criados por eles o tempo todo. Outra disse que comer era uma oportunidade de sentir gratidão pela vida.
Depois de uma hora de conversa, uma menina que queria devolver para o mar mudou de ideia.
“Eu sinto pena, mas se devolver para o mar eles serão comidos por outros peixes. Então é melhor a gente comer mesmo”.
No fim das contas, 11 crianças votaram por comê-los e 6 crianças continuaram sendo contra.
Fazia 260 dias que eles estavam cuidando dos peixes quando os linguados foram retirados do tanque e preparados na frente da turma.
“Agora vamos ter uma aula sobre como receber a vida desses peixes. Vou pegar a faca. Unam as suas palmas para este momento”, disse o professor.
Algumas crianças choraram e se recusaram a comer. Outras comeram em silêncio. Os peixes que geralmente viram refeição sem que se pense sobre eles, de repente, se tornaram criaturas especiais.
Um menino comentou depois de comer a parte dele:
“Pude entender a importância da vida. Sinto que a palavra de agradecimento ‘itadakimasu’ (dita antes de comer) tem um peso diferente. Quero me lembrar disso no futuro”, comentou.