Hamamatsu – A população japonesa já estava acostumada com a máscara antes da pandemia. Depois do surgimento do coronavírus, não deu outra: o Japão foi um dos países mais rigorosos neste sentido e até hoje, é difícil ver alguém na rua que não esteja utilizando a proteção no rosto.
Mas já tem especialistas defendendo que a hora de abandonar as máscaras está chegando. Quem deu esta declaração recentemente foi o infectologista Kunio Yano, que atua no Centro Médico de Hamamatsu (Shizuoka).
Em uma reportagem do portal japonês Post Seven, Kunio defendeu que a partir de julho a população deve abrir mão da máscara, considerando que o verão japonês é intenso e anualmente há milhares de casos de hipertermia. A condição é especialmente perigosa para os idosos, mas já tirou a vida de crianças e adultos.
Não há garantias de que a fúria do coronavírus terá cessado até o meio do ano, mas há um fundamento para a proposta audaciosa do médico. Kunio explicou os perigos do uso prolongado da máscara e reforçou que com a variante ômicron, que é mais leve que a Delta ou o vírus original, os riscos de agravamento reduziram bastante.
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Os riscos da hipertermia
O verão de 2020, primeiro ano em que a população japonesa enfrentou um verão rigoso de máscara por causa da pandemia, registrou dados recordes da condição provocada pelo calor. Segundo informações da Agência de Gestão de Incêndios e Desastres (FDMA, em inglês), em agosto daquele ano, 43 mil pessoas foram socorridas em todo o país com sintomas de hipertermia.
O número foi o mais alto desde 2008, quando a Agência começou a registrar esta estatística. O Ministério do Meio Ambiente também revelou no Plano Preventivo contra a Hipertermia que o uso de máscara aumenta os riscos da condição causa pelo superaquecimento do corpo.
Para o infectologista Kunio, este é um motivo suficiente para que a população pare de usar máscaras, ainda que haja os riscos do coronavírus.
“O risco maior é a hipertermia”, afirmou. “O mecanismo de ajuste da temperatura corporal já foi enfraquecido com a vida em isolamento, o tempo em que foi evitado sair de casa. Com a máscara, é difícil liberar o calor e baixar a temperatura corporal. A máscara também umidifica o interior da boca e mesmo que sinta sede, não há secura na garganta. Assim fica mais fácil sofrer uma desidratação sem perceber”.
E o médico também reforçou o momento em que se deve parar de usar máscara. “Tem que parar com as máscaras durante o mês de julho. Em agosto a temperatura já subiu demais”, disse.
Mas e como fica a pandemia? O infectologista acredita que o risco da hipertermia é maior, agora que temos uma variante mais fraca em circulação.
“A ômicron é mais perigosa aos idosos e dificilmente agrava o quadro de jovens. Já a hipertermia é perigosa não só aos idosos, mas também aos jovens. No pior caso pode levar a morte. Acredito que neste momento o risco de ter os sintomas do vírus agravado é menor do que o risco de continuar de máscara e acabar sofrendo hipertermia”, ressaltou.
Mas não é recomendado que todo mundo pare com a máscara ao mesmo tempo. O ideal é que este processo seja feito aos poucos na população.
“No ano passado, vimos o aumento repentino dos casos de vírus sincicial respiratório em crianças. Se todos pararem com a máscara ao mesmo tempo, podemos ter um ataque generalizado de vírus como o da varicela, caxumba e citomegalovírus. Os pediatras podem acabar sobrecarregados e ainda é possível que ocorra um surto de influenza mesmo no verão”, alertou.
Quando todo mundo parar com as máscaras, a ocorrência de outras doenças mais comuns deve aumentar. Além disso, ainda há o risco do coronavírus e as doses de reforço e tratamento, controle das variantes e leitos hospitalares deve continuar. Se a proposta do infectologista for levada adiante, o fim do cotidiano das máscaras pode estar próximo.