Tóquio – O mesmo crime: estupro pela 10ª vez. Kenshiro Murata, de 31 anos, já tem 10 prisões e pelo menos dez casos parecidos no histórico, mas por alguma razão até o momento, voltou a ganhar a liberdade depois de ser preso repetidas vezes.
Murata vive em Tóquio e trabalhava para uma subsidiária da empresa de recursos humanos Recruit. A acusação atual é sobre um caso ocorrido em 2019.
A vítima era uma amiga de longa data do homem, na faixa de 20 anos. No dia do crime, eles foram juntos a um restaurante e a jovem visitou a casa dele.
Segundo as emissoras Nippon TV e Fuji TV, Murata ofereceu um coquetel verde para a então “amiga”, preparado por ele mesmo. Dentro da bebida, havia colocado um sonífero.
Quando a vítima começou a perder a consciência, Maruta cometeu o estupro. O caso demorou para ser solucionado porque a jovem não tinha memória, embora soubesse que algo aconteceu.
Os investigadores da polícia encontraram vídeos do momento do crime no celular do homem e foi possível também identificar a substância do sonífero oferecido a jovem.
O acusado não negou as acusações. Ele pediu desculpas por ter sido “desrespeitoso” com as mulheres.
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Outros casos de estupro
Este foi o caso desvendado mais recentemente, mas está longe de ser o último estupro. De acordo com as informações da Polícia Metropolitana de Tóquio, Maruta foi preso repetidas vezes desde novembro do ano passado sob acusação de cometer o mesmo tipo de crime.
Ele já totalizou 10 prisões e a polícia investiga outros casos que podem ter relação com o homem.
Lei branda
O Japão ainda carrega o estigma de uma legislação branda com relação aos crimes sexuais. Até 2017, os casos resultavam em pena de 3 anos e eram considerados mais leves do que os casos de roubos.
A reforma de lei aumentou a pena para 5 anos e incluiu os homens também na condição de vítimas, já que a lei até então punia apenas nos casos em que as mulheres eram vítimas.
No entanto, grupos sociais e organizações continuam a cobrar por uma nova reforma, que condene com ainda mais rigor os estupradores. Uma das razões é que muitos casos que são levados ao tribunal acabam sem condenação.
Os tribunais do país possuem registros de casos absurdos. Segundo uma matéria do Huffington Post, um pai chegou a ser inocentado pelo Tribunal de Okazaki (Aichi) por estuprar a filha de 19 anos, desde que ela estava na escola ginasial. O juiz considerou que era “difícil” reconhecer que a vítima estava em uma posição de inabilidade de resistir e por isso havia “suspeita” de consentimento.
O jogou virou na Corte de Nagoya, que condenou o homem a 10 anos de prisão.
Outra situação parecida ocorreu em Shizuoka. Um homem foi julgado por pedofilia e estupro de uma menina de 12 anos e inocentado pela Corte de Shizuoka, que alegou que não era possível confiar nas provas da vítima.
O caso também acabou em condenação depois que a família recorreu. Em dezembro de 2020, a Corte de Tóquio anulou a decisão de Shizuoka e condenou o réu a 7 anos de prisão.
Mesmo assim, conseguir que o responsável seja condenado por estupro e permaneça um bom tempo na cadeia ainda é uma luta árdua para as vítimas de crimes sexuais no Japão e a principal razão para que grupos de apoio e organizações de combate à violência contra as mulheres lutem por uma reforma de lei mais eficiente.