Tóquio – A pandemia aumentou as oportunidades de ficar em casa. O tempo prolongado no ambiente doméstico teve um efeito colateral: mais brigas entre os vizinhos.
Problemas como o barulho na casa dos vizinhos ou o cheiro de cigarro que passa de uma varanda para a outra, se tornaram mais evidentes no Japão. Em 2020, a polícia registrou 1,57 milhão de denúncias de vizinhos através do número de emergências.
Foram 190 mil casos referentes ao barulho, como conversas em voz alta, música ou mesmo karaokê doméstico. Em 2019, foram menos de 150 mil ocorrências referente a este tipo de problema.
No Japão é comum chamar a polícia em vez de bater na porta. Em muitos casos, o vizinho que está provocando a perturbação só descobre que alguém está incomodado quando um policial toca a campainha.
De acordo com a Polícia Metropolitana de Tóquio, uma questão nova que surgiu com a pandemia foi a reclamação de trabalhadores que estão em regime home office e acabam incomodados com os barulhos dos vizinhos.
A polícia também passou a receber mais denúncias de pessoas que estão em casa e se incomodam ao ver “bagunça” na rua, de pequenos grupos que estão bebendo. Há ocorrências em que o pedido é para que os políciais façam algo a respeito.
Solução harmoniosa entre vizinhos
A emissora Fuji TV conversou com o advogado Osamu Mikami, do Escritório de Advocacia Setagaya City em Tóquio. Ele contou sobre as principais questões de vizinhança e deu conselhos para resolver os problemas da melhor forma possível.
1. Que tipo de problemas são comuns entre vizinhos no Japão?
A maioria dos casoss é sobre ruídos na casa ou apartamento ao lado. Há também problemas de invasão de espaço, erros na hora de separar o lixo ou os odores, como o cheiro de animais domésticos ou a fumaça de cigarro, comum quando alguém fuma na varanda ou na sacada.
No geral, os problemas mais comuns de apartamento são referentes ao barulho e o odor. No caso das casas, há mais casos de invasão do terreno ou da perda do direito de receber luz solar por causa de algo que o vizinho fez.
2. O senhor acha que a pandemia facilitou a ocorrência de conflitos?
Acredito que sim. A necessidade de isolamento e o trabalho em casa aumentaram o tempo dentro de casa. Coisas que antes não eram relevantes passaram a ser motivo de irritação. Acho que é muito possível que isto acabe aumentando os conflitos entre vizinhos.
3. O que pode ser feito quando o problema com o vizinho é constante?
É possível realizar uma consulta sobre o caso. Se for um apartamento alugado, pode falar com o proprietário ou a empresa que administra. No caso de casas compradas, é possível buscar um apoio da associação do bairro.
Na prefeitura, também há departamentos que possibilitam este tipo de consulta sobre a convivência com vizinhos. Se houver um amigo em comum, esta pessoa pode intermediar a solução com os moradores. Se for um caso mais grave e de difícil solução, é possível tentar um advogado ou registrar a denúncia formalmente com a polícia.
4. Como escolher o melhor o caminho?
O ideal é realizar várias consultas e buscar o melhor jeito de resolver a questão. Por exemplo, se um processo não estiver sendo cogitado, ainda assim é possível consultar um advogado mesmo assim, para obter um aconselhamento.
Receba conselhos diversos e considere que você vai se deparar com o vizinho em algum momento, já que moram perto. Tente resolver o problema de forma diplomática e harmoniosa na medida do possível.
5. O que a vítima pode fazer para explicar o problema?
Seja específico ao fazer uma reclamação, seja onde for. Se o problema for com barulho, tenha anotado o dia, a hora, a circunstância. É algo que acontece há quanto tempo? Sempre no mesmo dia e horário? Se tiver uma gravação, ainda serve como prova.
Outra possibilidade é conversar com os outros vizinhos, descobrir se você é o único incomodado ou não. Se for reclamar para a empresa que administra o prédio, por exemplo, e a reclamação vier de um grupo de moradores e não de um só, é possível que haja uma atenção maior ao caso.
6. Tem algo que não deve ser feito?
O melhor é não decidir por conta própria que o vizinho é uma pessoa ruim e então atacá-lo com ofensas. É possível ainda que o barulho ou o cheiro tenham outra origem. Se você surpreender o morador com gritos e ofensas de repente, é bem provável que isto dificulte a solução do problema.