Tóquio – O Japão surpreende pela organização de seus espaços públicos, a capacidade de criar regras e seguir com disciplina, organizar sistemas, colocar as crianças para limpar a sala de aula e fazer a vida coletiva funcionar com excelência.
Mas quando se trata da vida privada, existe um paradoxo. As casas e apartamentos raramente estão de acordo com a organização dos espaços coletivos. Apartamentos pequenos, bagunçados e entulhados compõem as vidas de muitos japoneses, sem falar nos casos de pessoas que vivem com montanhas de lixo dentro de casa e que já se tornou um problema social no país.
Este assunto foi tema de um artigo publicado pelo arquiteto e especialista em percepção espacial, Keizo Yano, que já liderou mais de 120 projetos de casas dos sonhos para famílias japonesas.
Keizo compartilhou sua experiência e explicou os fatores que fazem com que muitos japoneses tenham dificuldades de manter a ordem de seus ambientes domésticos. Ele apontou que o Japão, em comparação com outros países desenvolvidos, há muitas pessoas que são péssimas com organização pessoal.
“Existe um equívoco de que isso acontece porque as casas dos japoneses são pequenas ou por causa do layout das casas tipicamente nipônicas, com quartos revestidos por tatami. Só que não tem nada a ver, na realidade, não é por causa do estilo das casas que existe essa inclinação para a bagunça”, argumentou.
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As causas dos quartos bagunçados
Reprodução / 777Fukujin (imagem ilustrativa).
Para Keizo, há dois motivos que justificam esse comportamento e são basicamente culturais, hábitos passados de pais para filhos no Japão.
“Muitos japoneses não aprenderam a organizar suas próprias coisas quando crianças. Em outros países, as crianças aprendem a arrumar o quarto, guardar seus brinquedos depois de brincar. Há famílias que castigam os filhos, mandam ficar no quarto quando passam dias sem arrumar as próprias coisas. Só que no Japão isso não é comum, normalmente é a mãe que limpa o quarto do filho”, explicou.
E isto pode fazer com que a criança não desenvolva habilidades para organizar suas próprias coisas, embora a mentalidade de pensar no coletivo e manter a ordem nos espaços em comum seja forte desde a infância.
“Pode parecer exagero, mas é fato que se você não aprende a importância de cuidar e manter suas próprias coisas em ordem, você não desenvolve esse estilo de vida depois, na fase adulta”, disse.
O outro motivo, segundo Keizo, é o fato de que existe um hábito de acumular coisas no Japão. Há muitos pertences pessoais e eles acabam entulhados nas casas.
Uma publicação da Editora Toto mostrou essa realidade. Famílias japonesas comuns foram convidadas a empilhar seus pertences na frente de casa, o que surpreendeu pelo grande volume de coisas que há em uma residência.
“O outro motivo que favorece a bagunça é isso, há um grande volume de coisas e fora de controle. Uma das bases da organização é o controle sobre os pertences, onde colocar, guardar e quando usar e muitos japoneses não sabem fazer isso”, explicou.
Por isso o serviço de consultores, como a famosa Marie Kondo, acaba sendo essencial para quem almeja ter uma vida doméstica mais organizada e produtiva.