Tóquio – O hábito de fotografar por baixo da saia de mulheres parece ser um distúrbio psicológico frequente no Japão. Não é raro ver homens sendo presos por causa disso, incluindo aqueles que exercem funções de trabalho notórias, como policiais ou funcionários do governo japonês.
Desta vez, um escândalo desta categoria espantou uma comunidade escolar na província de Okayama. O diretor da Escola Primária Kaisei na cidade de Okayama, de 60 anos e que não teve o nome divulgado, foi afastado do cargo depois de ser flagrado em uma ação criminosa.
O caso aconteceu por volta das 7h da manhã do dia 1° de fevereiro. O homem teria tirado a foto por baixo da saia de uma mulher que fazia compras em uma loja de conveniência do distrito Higashi. A foto foi tirada pelo smartphone dele e pelas costas da vítima.
Ele foi denunciado e preso em flagrante no mesmo dia. O Comitê de Educação de Okayama liberou as informações sobre o caso, que foram divulgadas em uma reportagem do Jornal Yomiuri.
De acordo com a matéria, o que mais espantou foram as confissões do diretor da escola de crianças para a polícia. Ele disse que fotografava por baixo da saia de mulheres desde que era jovem e que nos últimos tempos, havia desenvolvido uma nova tática: colocar o smartphone dentro do sapato para bater as fotografias indevidas.
Ele também disse que “não conseguia se controlar” e que “acabava perdendo para o desejo ruim de fazer isso”.
Pelo regulamento da Secretaria de Educação, o delito do diretor poderia resultar em suspensão ou redução salarial, o que são penas leves considerando o crime. No entanto, o órgão decidiu afastá-lo permanentemente, por causa do método como a foto foi tirada considerado de “extrema má índole” e a responsabilidade da função que exercia.
Porém, o homem já tinha 60 anos de idade e estava para se aposentar a partir de março, o que faz com que o afastamento não faça muita diferença. Mas o escândalo fez com que perdesse direito ao dinheiro de receber a gratificação por tempo de serviço, chamado de “taishokukin”.
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Distúrbio psicológico de fotografar escondido
Os casos numerosos de homens presos por fotografar por baixo da saia de mulheres em locais públicos já fez com que esta prática virasse tema de estudo. Em uma reportagem publicada no ano passado pelo portal Shujo Prime, o especialista em saúde mental que atua em uma clínica em Kamakura, Akiyoshi Saito, falou sobre os casos analisados.
A pesquisa foi conduzida na clínica entre 2006 e 2020 com mais de 500 pacientes com este distúrbio e vários pontos em comum foram identificados. Na maioria dos casos, se trata de homens formados na faculdade e uma situação de emprego regular. E cerca da metade dos homens que cometem esse tipo de delito são casados.
Os dados da pesquisa indicaram ainda que a maioria (70%) começou a fotografar na casa dos 20 anos e não parou mais. O que parece ser motivado por um desejo sexual no início, se torna um vício pela adrenalina de fazer algo arriscado e proibido.
“Eles acabam viciados nesta atividade. O objetivo é bater a foto sem serem vistos e se sentem satisfeitos depois. O sentimento que nós percebemos é de quem lê o diário secreto de alguém, um entusiasmo que não existe na rotina. Uma tentativa de se sentir superior, em posse de algo secreto”, revelou.
De acordo com Saito, esta questão revela muitas condições por trás. “São homens que sofrem com solidão, complexo de inferioridade, falta de amor próprio. Não conseguem satisfazer suas necessidades de aprovação social e a atividade se torna uma forma de aliviar as tensões do dia a dia”, explicou.