Tóquio – A vida pode ser difícil para quem tem uma renda baixa e precisa pagar aluguel, comprar comida e dar conta de todas as despesas mensais. Mas se você ganha pouco e não sai da casa dos pais, continua morando no mesmo lugar onde passou a infância apesar de já estar com mais de 40 anos, a realidade é bem diferente.
Uma reportagem do portal Nikkan SPA! contou a história de Masanori Kurata*, de 42 anos, que vive com os pais desde sempre. Ele nunca se casou e nem chegou a morar sozinho. Kurata terminou o ensino médio e não se sentiu motivado a buscar por um emprego.
“Quando eu vi os outros jovens fazendo entrevistas eu pensei que era algo como os exames escolares, uma obrigação. Eu não queria fazer nada, olhava o sistema de trabalho, a organização salarial das empresas e não me motivava e meus pais só queriam que eu terminasse a escola mesmo”, contou.
Masanori é o caçula da família e tem duas irmãs mais velhas. As duas seguiram pelo caminho regular: foram morar sozinhas depois de terminar o ensino médio e hoje são casadas e com filhos.
Na época, ele optou por não seguir por nenhum dos caminhos propostos. Masanori não foi para a faculdade e também não buscou um emprego estável. Durante vários meses, não teve trabalho nenhum e gastava o dinheiro que recebia de Natal da família.
Quando o dinheiro acabou, ele arrumou um serviço de contratação de um dia só e é o que tem feito nos últimos 24 anos.
“Não preciso pagar aluguel e meus pais estão idosos, mas eles recebem aposentadoria e fazem trabalhos de meio período. Eles nunca me fizeram pagar a comida ou contas de casa e o celular é um plano para dividir com a família”, explicou.
Desta forma, Masanori gasta dinheiro com jogos, refeições fora de casa ou para dar um trocado os sobrinhos quando a irmã visita a família.
“Faz tempo que eu não verifico minhas finanças, mas já estou com mais de ¥2 milhões guardados. Nos meses que eu gasto mais dinheiro ainda me sobra cerca de ¥30 mil. Estou sempre engordando a poupança”, diz.
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O preconceito social
Pôsteres antigos do Gundam ainda decoram o quarto. Reprodução / Nikkan SPA!
A sociedade condena os adultos que não saem da casa dos pais e esse estilo de vida é alvo de fofocas constantes de vizinhos e conhecidos. Mas Masanori diz que os pais não se importam que ele esteja em casa e se relaciona muito bem com a família.
A primeira vez que ele ouviu sobre as críticas sociais foi quando assistiu a um programa de tv por acaso.
“Eu liguei a tv tarde da noite e estava passando um programa que falava dos solteiros com mais de 40 anos, sem emprego estável, renda baixa e que vivem no mesmo quarto que ganharam dos pais na infância. Eu olhei aquilo, fiquei espantando e dei um grito: sou eu!”.
O que realmente deixou Masanori chocado foi a maneira como seu estilo de vida foi retratado, como se ele fosse um fardo para a família ou para a sociedade.
“O programa dizia que pessoas como eu nunca se tornam independentes, não encontram alguém para casa e que é muito vergonhoso viver assim. Eu fiquei pensando: caramba, eu sou mesmo esse incômodo todo para as pessoas? Eu nunca quis me casar ou arrumar um emprego formal, só estou morando com meus pais”, refletiu.
Além disso, ele diz que os pais não o veem como um problema. A dinâmica da família funciona desde sempre e não há brigas ou discussões pelo fato de ainda estar em casa. Talvez pelo fato de que as irmãs saíram de casa cedo e não demoraram para ter filhos, o que deixou o casal de idosos contente com os netos.
“Eu tinha notas regulares na escola e cheguei a gostar de algumas garotas, na verdade até tive uma namorada, mas não tenho muito interesse nos relacionamentos. Se não trabalhar eu fico com muito tempo livre, então decidi trabalhar de vez em quando e nunca senti que a minha renda é baixa. Eu gasto com jogos, mas não ao ponto de me endividar e meus pais não têm preocupações ou expectativas comigo”, disse.
Masanori se considera feliz em seu quarto da infância e desabafou sobre o que pensa das reportagens ou vizinhos que fazem fofocas sobre seu estilo de vida.
“Eu nunca fui um problema para a minha família e quero que as pessoas saibam que nós vivemos bem assim. Se eu fosse forçado a sair de casa e trabalhar, talvez me tornasse um criminoso por causa do estresse. É claro que não é um estilo de vida para ser elogiado e não recomendo a outras pessoas, mas quero que saibam que eu não sou o único a viver bem dessa forma”, afirmou.
Se não é um problema para ele mesmo ou para a família, ninguém tem nada a reclamar.