Pequim / Tóquio – Intolerância ou rivalidade com os vizinhos. Ninguém sabe ao certo o que está acontecendo na China, mas a notícia de que chineses estão sendo punidos, agredidos e até presos por usar vestes japonesas chegou no Japão.
Uma reportagem da Emissora Fuji relatou alguns casos recentes. Um deles aconteceu em um parque de Wuhan, capital da província de Hubei, a mesma cidade onde os primeiros casos de coronavírus foram registrados no fim de 2019.
No parque, duas mulheres chinesas que vestiam quimonos foram abordada por um guarda bastante agressivo, que disse que elas não podiam trajes japoneses. As mulheres disseram que não estavam vestindo roupas do país vizinho e o guarda insistiu e elas acabaram expulsas.
“Vocês são chinesas ou não são? Não podem usar roupas do Japão!”.
As mulheres foram embora sem conseguir desfazer o mal entendido. Na verdade, elas não estavam vestindo quimonos japoneses, mas o hanfu, um traje tradicional chinês, de antes da Dinastia de Qing. O traje é parecido com o quimono, mas há diferenças na faixa ao redor da cintura e em alguns modelos, a faixa vai na região dos seios.
Em agosto do ano passado, houve um outro caso bastante notório. Uma jovem teve problemas com a polícia na cidade de Suzhou, ao oeste de Xangai. Ela estava usando um quimono rosa e tentava tirar fotos bonitas quando foi abordada pela polícia.
A conversa acabou parando nas redes sociais. A jovem, que é chinesa, disse aos policiais que só estava naquele lugar porque queria tirar fotos. E um policial respondeu:
“Se você estivesse usando trajes chineses, nós não diríamos nada. Mas o que você está vestindo é uma roupa do Japão. Isto é inadmissível como cidadã da China ou por acaso você não é chinesa?”.
Os policiais começaram a gritar com a jovem, que ficou bastante assustada e confusa. Ela perguntou se eles podiam gritar com ela na frente de outras pessoas e eles disseram que não tinha problema.
E reclamaram que ela não estava cumprindo ordens. Ela insistiu em perguntar se aquilo tudo era simplesmente pelo fato de que estava vestindo quimono e acabou acusada de cometer um crime de perturbação da ordem pública e rebeldia.
Neste dia, a mulher foi detida pelos policiais.
Ainda não havia uma lei no país que proibisse o uso de vestes estrangeiras por chineses, mas uma reforma atual de lei segue nesta direção. Os políticos querem criminalizar quem anda em público com vestes de outros países e deve impor prisão de até 15 dias e multa de até 5 mil yuan (cerca de 100 mil ienes ou 4 mil reais).
A reforma de lei trouxe preocupação aos chineses e a rigorosidade parece injusta e exagerada. Em Pequim, um cidadão chinês foi entrevistado pela Fuji e fez um comentário:
“Eles não estão especificando na lei que tipos de trajes e de que países não pode usar. Se não especificarem, vai ficar a cargo do julgamento pessoal das autoridades que fazem as leis serem cumpridas. Acho que estão indo longe demais”, disse.
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Agredida por usar cosplay
Não é só o quimono que tem provocado incômodos nas autoridades do país vizinho. Em agosto, jovens que estavam fazendo cosplay de animações japonesas acabaram agredidos.
Os adolescentes estavam se divertindo de cosplay quando foram abordados por uma mulher bastante indignada.
“Vocês estão admirando um país estrangeiros e tentando vender uma imagem de felicidade. Acho que não tiveram uma boa educação, eu vou disciplinar vocês no lugar de seus pais”.
A mulher gritava com os adolescentes, que ficaram assustados e sem reação.
Uma menina de cosplay foi empurrada pela mulher desconhecida. (foto principal) O caso acabou envolvendo a polícia e as imagens também foram parar nas redes sociais.
O professor da Universidade Kanda de Estudos Internacionais, Ichiro Korogi, que também é especialista e pesquisador sobre a China contemporânea, disse que a reforma de lei do país vizinho é preocupante e um sinal negativo para os nativos.
“Esta lei não está visando apenas os trajes japoneses, mas vestimentas estrangeiras no geral e representa uma intensificação do controle do governo sob a população sem dúvidas. Querem eliminar as diferenças, deixar todos na mesma linha. É uma mensagem do governo para que a população se comporte”, sugeriu.