Tóquio – Os transsexuais ainda lutam pelo direito de utilizar os banheiros públicos do gênero que se identificam, com ou sem cirurgia, mas a discussão não avança. E, em meio à luta por direitos, surgem novos inimigos: os pervertidos no Japão.
Homens heteros que decidiram se vestir de mulher para assediar mulheres nos espaços reservados para elas. São homens de 20, 30, 40 anos, muito até casados, que sentem uma excitação em se vestir de mulher e ter relações com mulheres usando uma fantasia.
Em outros casos, são aproveitadores que usam a fantasia para parecer amigáveis e atacar as vítimas quando não estão preocupadas ou com medo.
Uma reportagem da revista Nikkan SPA! trouxe alguns relatos de vítimas de abusos e explicou como esses casos estão se tornando recorrentes no Japão.
Sachiko Yamamura*, de 48 anos, que já participou de eventos entre mulheres e homens vestidos de mulheres, contou para a reportagem:
“Esse tipo de homem entra vestido de mulher em banheiros e sugere para a vítima que ‘praticam o lesbianismo’ ou dizem que ‘ficaram excitados’ e puxam para uma cabine. Eles têm muita força física e pegam as mulheres desprevenidas”, explicou.
Yuka Kinoshita*, de 38 anos, foi vítima de um abuso quando estava lavando as mãos depois de usar um banheiro público. Ela deu o seguinte relato:
“Eu estava no evento de um clube quando fui usar o banheiro e apareceu um homem de meia idade vestido de mulher. Eu pensei que fosse trans e relaxei, mas quando tentei sair do banheiro, ele gritou que eu era bonita. Eu olhei para trás e ele veio com todas as forças e me agarrou, tocou meus seios, me beijou. Eu usei todas as forças que tinha para sair correndo e me arrependo de ter baixado a guarda”, disse.
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O que as vítimas dos pervetidos contam

Uma mulher de 35 anos disse que ficou confusa e assustada quando foi abordada por um homem vestido de mulher em um banheiro.
“Eu tomei distância e ele se aproximou, jogou o corpo contra o meu e eu percebi que era apenas um homem mesmo, hétero, vestido de mulher”, disse.
Em outro caso, a vítima chegou a se tranquilizar achando que estava lidando com uma pessoa que não tem interesse sexual em mulheres.
“Ele tocou meus seios e por um momento eu pensei que estava brincando, que não gosta de mulheres e tentei manter a calma. Mas um tempo depois eu fui me dar conta de que era só um homem mesmo vestido de mulher e fiquei atordoada”, disse outra, de 29 anos.
Em outro caso, uma jovem de 24 anos, por pouco não foi estuprada.
“Eu trabalhava em uma casa noturna e entrou um homem vestido de mulher, ele estava bem vestido e eu baixei a guarda, parecia que não tinha nada a temer. Ele me fez tomar muitas tequilas mesmo sem querer. Era um cliente com muito dinheiro e fez um joguinho difícil de perguntas para que eu errasse e bebesse e depois me colocou em um táxi.”.
A mulher conta que lembra de entrar em um quarto com o homem, ainda vestido de mulher e de ser atacada por ele. Ela rejeitou o contato, mas tinha bebido demais e acabou caindo no sono.
“Eu acordei minutos depois com ele nu, em cima de mim. Eu reuni forças para fugir dele e ir embora”, disse.
Os casos têm se repetidos em casas noturnas, cabarés, clubes que reunem pessoas com interesses sexuais diversos, mas também podem acontecer em qualquer ambiente e mesmo fora dos banheiros.
De acordo com o portal Abema Times, em junho deste ano, um homem com roupas femininas foi preso em Saitama depois de atacar duas mulheres que caminhavam na rua. Ele disse aos policiais que se sentia “excitado” com a fantasia.
A reportagem do portal Nikkan SPA! explicou que o ato tem se tornado uma oportunidade aos abusadores. Ao se vestir de mulher, eles conseguem se aproximar de mulheres com mais facilidade e eliminam o medo de serem violentadas.
Na visão da vítima, o homem vestido de mulher pode parecer inofensivo, até que suas intenções fiquem claras. Além disso, eles se confundem com pessoas trans e a vítima não tem como saber se o homem que entrou no banheiro feminino é trans ou um pervertido mal intencionado e perigoso.
Resta tomar cuidado, ficar atento a essa possibilidade e jamais baixar a guarda em nenhuma circunstância que pareça suspeita.