Tóquio – Quando o forte terremoto abalou a Península de Noto e cidades na província de Ishikawa no início de ano, Nanami Tanaka, de 18 anos, estava em Tóquio. A jovem sentiu um tremor fraco e logo soube que sua terra natal tinha sido atingida.
Natural da cidade de Wajima, uma das cidades mais afetadas pelo desastre, Nanami tentou contato imediato com a mãe, Yuko, de 52 anos. Ela mandou mensagens por rede social e o aplicativo LINE, perguntando se estava tudo bem e pedindo que a mãe buscasse um refúgio imediato.
As mensagens nunca foram lidas.
“Eu achei que ela tinha ficado sem internet e sem luz, que estava bem e apenas tinha sido afetada pela situação. Mas então comecei a ver as notícias e Wajima não saía do noticiário, eu comecei a ficar muito preocupada”, contou em uma reportagem do Jornal Asahi.
Nanami se mudou para Tóquio há 4 anos e desde então, a mãe vivia sozinha em Wajima, na casa onde criou a filha. O local acabou isolado e com as construções desmoronadas. O teto da casa desabou em cima da vítima e ela pode ser encontrada por causa dos esforços de Nanami através da rede social X (o antigo Twitter).
Entre tantos boatos e brincadeiras de mal gosto na internet após um desastre natural, as redes sociais também podem ser úteis e provocar uma corrente que leve a um resultado positivo. Embora não tenha dado tempo no caso de Nanami, a história chamou atenção da mídia e da sociedade.
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O uso da rede social
No dia seguinte ao terremoto, Nanami ficou atenta aos noticiários e preocupada com a mãe e a situação em Wajima. Ela não sabia como estava o leste da cidade, região onde Yuko residia.
Na verdade, a estrada havia cedido e o bairro estava em estado de isolamento, de difícil acesso e com as casas desmoronadas, incluindo a de Yuko.
A menina viu que outra pessoa tinha localizado a família depois de pedir ajuda na rede social e achou que valia a tentativa. §
“Eu postei as informações dela, o nome e o endereço e pedi que espalhassem a mensagem. Eu fiquei preocupada se estivesse tudo bem, ela estivesse em um abrigo e eu espalhando suas informações pessoais, mas era uma situação de desespero”, contou.
Ela soube pela rede social que os moradores da mesma região tinham se abrigado em um templo e pediu mais informações. Porém, não houve muitos comentários de pessoas que pudessem ajudar.
No dia 5 de janeiro, um amigo dos tempos da escola conseguiu mandar uma foto para Nanami. Pela primeira vez, ela viu como sua casa tinha ficado destruída com o terremoto.
“Eu vi aquela foto e pensei que não teria como salvá-la se ela estivesse nos escombros da casa. Mas eu quis acreditar, de verdade, que a minha mãe tinha encontrado abrigo em algum lugar”, lamentou.
Como a mãe foi localizada
Depois de usar a própria conta no X e não conseguir muito resultado, a jovem teve outra ideia. Ela pensou que se conseguisse acessar a conta de sua mãe, cheia de contatos na própria cidade, seria mais fácil encontrá-la.
Ela colocou a senha que acredita ser a da mãe e funcionou. Conseguiu acessar a conta de Yuko na rede X e fez uma publicação:
“Aqui é a filha da Yuko, é possível que a minha mãe esteja nos escombros da casa que desabou com o terremoto em Wajima. Eu não estou por perto e mesmo que peça socorro, não consegui fazer nada por ela. Se alguém puder encontrá-la, por favor, compartilhe essa mensagem”.
Os amigos de Yuko foram os primeiros a ler a mensagem da filha. Eles perceberam que ela não estava no abrigo e conseguiram entrar em contato com a polícia e as forças de Autodefesa em atividade na região para que os escombros fossem inspecionados.
Um dia depois da publicação, no dia 7 de janeiro, Yuko foi encontrada. Mas ela estava fria e não tinha mais nada que pudesse ser feito. Nanami se lamentou por não ter tido a ideia de usar a conta da mãe mais cedo.
Na verdade, antes mesmo de a menina postar, as Forças de Autodefesa já tinham inspecionado as casas na região em busca de sinais de sobreviventes, mas não conseguiram localizar a moradora.
A filha não tinha carro e não havia como regressar para a terra natal e ir em busca da mãe na situação do desastre.
“O local ficou isolado, não havia como se comunicar e não havia mãos o suficiente para salvar as pessoas embaixo das casas. Muitas coisas acabaram pesando, infelizmente”, comentou.
Porém, o uso da rede social X e o fato de ter sido possível entrar em contato com os amigos da mãe que estavam refugiados, ajudou na localização.
“Se não fosse o X, teria levado mais tempo para encontrarem a minha mãe”, concluiu.