Tóquio – A pandemia mudou o cenário mundial de várias formas e trouxe uma revolução digital que especialistas estimam que ocorreria ao longo de vários anos. Muitos trabalhos presenciais se tornaram remotos e as empresas descobriram as vantagens de deixar o trabalhador em casa.
E isto mudou a vida de muita gente, trouxe problemas para alguns e exigiu adaptação de outros. Mas algumas das reclamações do novo estilo de vida fugiram do bom senso e da ética. Uma reportagem do portal japonês All About mostrou uma insatisfação curiosa por parte de muitos homens no país: a dificuldade de trair as esposas depois da pandemia.
Quem relatou os casos foi a consultora de relacionamentos Mayumi Mimatsu, que ajuda casais e muitas mulheres com problemas com seus companheiros. Ela falou sobre as profissões que criam um ambiente mais propício ao adultério e como as “escapadas” são comuns, principalmente entre os homens que fazem muitas viagens de trabalho.
“As pessoas me perguntam muito sobre quais profissões facilitam a traição, mas não é a profissão que é a culpada deste comportamento. Mas a traição tem a ver com o estilo de trabalho e de vida. Muitos mudaram o estilo de trabalhar com a pandemia e com essa nova realidade, o jeito de trair não é mais o mesmo”, explicou.
Veja alguns casos que Mayumi trouxe para a reportagem.
Trair nos cabarés durante viagens
Hirano (nome fictício) é um engenheiro japonês de 39 anos, que trabalha para uma multinacional. Ele conta que a pandemia mudou por completo seu estilo de trabalho. Antes, passava cerca de 150 dias no ano em viagens de trabalho para países asiáticos.
“Eu fazia a manutenção e ajustes de máquinas de fábricas locais. Nessas viagens, saía para comer e beber com colegas do escritório local e para falar a verdade, a gente ia em alguns cabarés. Este é o lado bom de ter um trabalho que envolve muitas viagens ao exterior, mas é lógico que não posso contar para a minha esposa”, confessou.
Depois da pandemia, as viagens de Hirano acabaram e ele passou a trabalhar de casa na maior parte do tempo. As manutenções em máquinas ainda são necessárias, mas o engenheiro japonês passou a atuar remotamente, por videochamada e instruindo o responsável local. Além disso, também consegue acessar o sistema de muitas máquinas remotamente, o que viabilizou a atividade mesmo a distância.
“Sempre que ia para a Tailândia eu acabava no mesmo cabaré e lá tem uma moça que gosto muito. Fico pensando em como ela está agora. Por causa da pandemia, a empresa descobriu que posso arrumar as máquinas sem viajar, então as viagens não serão retomadas. Eu me sinto um pouco solitário”, comentou.
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“Quem importa mais, eu ou a esposa?”
“A pandemia fez eu trabalhar em casa e quase não vou para a empresa mais. Isto acabou com as minhas chances de ver a amante”.
Quem deu essa declaração tão direta foi Masatoshi (nome fictício), um japonês de 45 anos que trabalha no departamento comercial de uma grande empresa. A amante era uma colega mais nova, do mesmo departamento.
“A gente encontrava os clientes em reuniões para fechar contratos e na volta, saíamos para beber juntos. Isso era rotina. Em alguns fins de semana, eu dizia para a esposa que ia levar os clientes para jogar golfe, mas na verdade passeava de carro com ela, íamos em motéis e nos divertíamos juntos”, contou.
No entanto, por causa da pandemia, as atividades comerciais se tornaram online e o japonês passou a ir para a empresa uma vez a cada duas semanas. “Além disso, iniciou um sistema de que apenas um funcionário por departamento pode comparecer no dia. Então acabaram as chances de vê-la no trabalho”, reclamou.
De início, os dois trocavam mensagens de que queriam se encontrar logo e precisavam ter paciência. “Eu achei que seria como a influenza, que o verão ia chegar e os casos de coronavírus acabariam naturalmente. Mas não foi assim”, lamentou.
O vírus continuou circulando e a empresa decidiu oficializar o trabalho remoto. A amante é solteira e a saúde mental foi piorando com o longo período sozinha. Ela passou a mandar mais mensagens para ele e insistir por encontros.
“Ela dizia que estava preocupada de ficar em casa e queria que eu fosse lá e dizia que podia vir na minha casa. Ela perguntou quem importava mais, se era ela ou a esposa. Eu pensei bem, se pedisse divórcio pela amante, teria que pagar indenização, não poderia mais ver meus filhos. Não ia valer a pena e por isso, acabei levando um fora”.
Mas Masatoshi credita o problema com a amante ao fato de a pandemia ter mudado o estilo de trabalho.
“Acho que se não fosse pelas mudanças na rotina de trabalho por causa da pandemia, a gente ainda estaria se encontrando. Com essa história de trabalhar em casa, acabaram as oportunidades de se divertir com amantes”, diz.